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Em negociação sobre a Síria, governo e oposição trocam acusações

Em negociação sobre a Síria, governo e oposição trocam acusações

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:03
síria
Representantes do governo do presidente Bashar al-Assad e da oposição síria no exílio trocaram acusações nesta quarta-feira (22), no início da conferência de paz de Genebra 2, que tenta uma difícil solução política para a guerra civil que devasta o país há três anos.
 
Já o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, defendeu uma transição sem Assad.
"Precisamos lidar com a realidade aqui... consentimento mútuo, que é o que nos trouxe até aqui para um governo de transição, significa que o governo não pode ser formado por alguém que é contestado por um lado", declarou Kerry na abertura.
 
"Isso significa que Bashar al-Assad não fará parte desse governo de transição. Não há nenhuma maneira, não é possível imaginar, que o homem que liderou esta resposta brutal contra seu próprio povo possa recuperar a legitimidade para governar", disse.
 
Kerry disse que a negociação de paz entre representantes do regime sírio e da oposição exilada vai ser "dura e complicada".
 
"Novo começo"
A reunião -a segunda reunião internacional que tenta, sem otimismo, obter um acordo de paz na sangrenta guerra civil da Síria- começou com um discurso de Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, que promove a conferência.
 
Ban apelou para que as partes em guerra tentem "um novo começo".
"Esta conferência é a sua oportunidade de... mostrar unidade", disse Ban, a representantes dos dois lados que se enfrentam na Síria e de cerca de 40 países, inclusive o Brasil.
Segundo o chefe da ONU, há grandes desafios para um acordo, mas eles não são intransponíveis.
Ban apelou para que as partes permitam o acesso imediato da ajuda humanitária, principalmente às regiões do país que estão sob certo.
"Atores externos"
Já o chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, apelou para que "atores externos" não se intrometam no que chamou de "assuntos internos" da Síria.
Lavrov disse que a oposição política interna deveria ser parte do diálogo nacional sírio, e que o Irã, não presente nas negociações, deveria ser parte do diálogo internacional.
Ele disse que o principal objetivo da conferência é "alcançar um fim para o conflito trágico" e impedir uma disseminação dele para outros países da região.
 
'Traidores'
Já o ministro de Relações Exteriores da Síria, Walid al-Moualem, disse que o país vai fazer "o que for necessário" para se defender da maneira que achar apropriada.
Ele afirmou que o conflito "não vai parar na Síria", mas vai afetar todos os países vizinhos.
Moualem discutiu com Ban Ki-moon, pedindo mais tempo para falar e contar a "versão síria" dos fatos.
Ele afirmou que ninguém pode contestar a legitimidade do governo de Assad, a não ser o próprio povo sírio.
Moualem acusou os membros da oposição de serem "traidores" e agentes estrangeiros.
"Eles dizem representar o povo sírio. Se vocês quiserem falar em nome do povo sírio, vocês não devem ser traidores do povo sírio, agentes a mando dos inimigos do povo sírio", disse.
 
Comparação com nazismo
O líder oposicionista sírio Ahmad Jarba comparou as fotos de torturas de presos, supostamente feitas pelas forças do governo, a crimes semelhantes cometidos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Jarba disse que o presidente Assad era responsável por crimes contra a humanidade no país devastado.
"As imagens de tortura são sem precedentes, exceto nos campos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial", disse.
 
Tarefa gigantesca
Diminuir o fosso entre as duas partes em guerra parece uma tarefa gigantesca. Diplomatas da ONU enfatizam que o encontro em Montreux, a ser possivelmente seguido de novas conversações em Genebra a partir de sexta-feira, está apenas começando. Poderia resultar em alguns acordos para aliviar o sofrimento dos civis e troca de prisioneiros.
Não só as duas partes estão comprometidas a lutar nas linhas de frente, onde a vitória ainda continua a escapar dos dois lados, mas a maioria na miríade de grupos rebeldes repudiou a organização opositora Coalizão Nacional, no exílio, por ter aceitado participar das conversações.
 
E embora o mediador da ONU, Lakhdar Brahimi, teoricamente tenha o apoio consensual das potências mundiais, o alvoroço causado pelo convite ao Irã ilustra como a guerra distanciou potências ocidentais da Rússia e colocou contra o Irã xiita os Estados árabes sunitas, que apoiam os rebeldes.
O presidente russo, Vladimir Putin, e o mandatário dos EUA, Barack Obama, mantiveram por telefone uma conversa "construtiva e voltada para negócios" sobre a Síria, disse o Kremlin. O chanceler russo, Sergei Lavrov, e o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, devem se reunir mais tarde em Montreux.
No entanto, a disseminação da violência, que já matou mais de 130 mil pessoas e levou um terço dos 22 milhões de habitantes da Síria a deixarem suas casas, fez com que surgisse um novo ímpeto para os esforços internacionais para deter o derramamento de sangue.
 
Já se passaram 18 meses desde que a conferência internacional de paz anterior, chamada Genebra 1, terminou em fracasso, e todas as outras iniciativas diplomáticas se mostraram infrutíferas.
"Na melhor hipótese, Genebra 2 vai reafirmar acordos feitos durante a primeira conferência de Genebra, pedir cessar-fogos, talvez trocas de prisioneiros e assim por diante", disse um diplomata ocidental.
"Ao mesmo tempo, quem participa das conversas está, na prática, dando legitimidade a Damasco. Eles estão conversando com o governo de Assad do outro lado da mesa. E, portanto, o show deverá continuar enquanto Assad permanece no poder."
 
O diálogo poderá aumentar, contudo, a luta interna entre as facções oposicionistas rivais, que já é bastante violenta. A conferência está sendo boicotada pelas poderosas facções islamitas sunitas que controlam parte substancial território sírio. Elas qualificam a oposição política no exílio como traidora por participar das conversações.
 

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