"Temos de tentar reconstruir nossas vidas aqui mesmo. Não há para onde ir. Foi aqui que nascemos e crescemos, e é aqui que devemos ficar", responde.
Enquanto ele dá detalhes sobre o tsunami que varreu o bairro em que vive há mais de 30 anos com a família, a esposa não para um segundo, tentando limpar uma mesinha de centro. "Mostra para ele como ficou o tatame", sugere ao marido. "Parece papel machê", diz, mostrando o cômodo que antes abrigava a sala.
Mar de lama
O mar de lama toma conta da casa. "Vai demorar meses para conseguirmos limpar tudo isso", diz o filho mais velho. "Mas não vamos desistir", assegura.
Ele conta que a família estava em casa na sexta-feira fatídica. "O terremoto nos pegou de surpresa e logo veio o alerta de tsunami. Ficamos aqui mesmo, no segundo andar e, de lá, vi as cenas mais impressionantes da minha vida", conta.
Uma onda gigante, mais alta que as casas, invadiu o bairro dos Hara com muita violência. "Vimos ela chegando e tínhamos a certeza de que morreríamos. Mas a onda fez uma curva e não atingiu nossa casa. Foi sorte." A casa vizinha também ficou intacta, mas as seguintes não estão mais lá. "É muito triste tudo isso", diz o filho, que também enche os olhos de lágrimas ao mostrar o cachorro da família, Kuro, em meio aos destroços e lixos da casa. "Não conseguimos salvá-lo. Ele estava na porta de entrada, mas a onda veio muito rápido."
O filho mais novo não para de tirar a lama de dentro da casa. Mas faz uma pausa para acrescentar: "Vimos uma pessoa sendo trazida pela onda gigante. Ela ainda estava viva. Foi horrível."
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