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Grávida, Síria atacada com ácido vem ao Brasil buscar tratamento

Casal diz desconhecer motivo do ataque, que ocorreu em janeiro deste ano.

Fonte: Globo.comAtualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:02
A síria Andi, de 30 anos; ela veio para o Brasil com o marido, após ser atacada com ácido em sua cidade natal. (Foto: Gabriel Chaim/G1)
A síria Andi, de 30 anos; ela veio para o Brasil com o marido, após ser atacada com ácido em sua cidade natal. (Foto: Gabriel Chaim/G1)

mulher grávida atacada com ácido

Era um domingo, dia útil na Síria, e Andi, de 30 anos, preparava-se para seguir a rotina habitual. Funcionária pública formada em administração, ela saiu para trabalhar às 8h30 daquele dia 12 de janeiro de 2014. Despediu-se do marido, que era representante de uma empresa farmacêutica e estava de malas prontas para uma viagem de trabalho. Apesar de cada vez mais próxima, a guerra que atinge o país há três anos ainda não havia chegado à pequena cidade onde os dois moravam na região de Al-Hasaka, no norte do país.
Quando Andi virou a esquina de sua rua, viu dois homens de moto, com o rosto coberto e um galão nas mãos. Percebeu que um líquido foi jogado em seu corpo. Ela havia sido atacada com ácido, mas inicialmente não sentiu dor. Só viu que sua roupa começou a soltar fumaça.


Correu, então, para a mercearia em frente e começou a se banhar com água, até que foi levada para o posto médico mais próximo. Os olhos ardiam muito. Só quando estava no carro percebeu as queimaduras, especialmente entre os seios, nos braços e em uma perna. Como era inverno, o casaco grosso ajudou a protegê-la de um estrago ainda maior, mas a agressão deixou inúmeras cicatrizes em seu corpo.

Motivos
Traumatizados com o ataque, Andi e seu marido fugiram da Síria e chegaram a São Paulo há cerca de 10 dias. Eles dizem que não entendem o que pode ter motivado a agressão.
O casal conta que, inicialmente, pensou que poderia se tratar de vingança de alguém que gostasse dela ou dele, já que eles haviam se casado há menos de um mês quando tudo aconteceu. “Eu perguntava pra ele, ele perguntava pra mim, mas não chegamos a nenhuma conclusão”, diz ela.

Outra hipótese que eles avaliam é de que seja um criminoso comum, já que o índice de violência tem aumentado na cidade onde eles moram. Muitos sírios afirmam que o governo do país mandou soltar presos perigosos para liberar espaço nas cadeias para os opositores e para semear o caos em algumas regiões. Andi e seu marido acreditam que pode se tratar de um caso como esse. “Pode ser pura maldade mesmo”, dizem.
Questionada se poderia se tratar de um crime de ódio por ela ser muçulmana e não usar véu – que é opcional na Síria --, ela disse prontamente que não acredita nessa possibilidade.

Grávida
Andi agora está grávida de três meses. Ela contou sua história ao G1 em uma sala da Mesquita de Guarulhos, seu ponto de referência desde que chegou a São Paulo. Atendendo a seu pedido, a reportagem não vai citar seu sobrenome, o nome do marido nem o de sua cidade.
Após receber o atendimento básico onde morava, Andi foi para Damasco, a capital do país, buscar um tratamento mais especializado.
O marido dela mostra, durante a conversa, uma foto em seu celular tirada no hospital de Damasco. Uma semana depois da agressão, o rosto de sua mulher ainda estava tão inchado e vermelho que ela parecia outra pessoa. Mal se viam os olhos, que ela não conseguiu abrir por vários dias. Depois de alguns segundos, Andi faz um gesto com a mão para que o marido vire o celular para o outro lado.

Chegada no Brasil
Andi e seu marido se conhecem desde pequenos, pois suas famílias são vizinhas. Quando decidiram sair da Síria, entregaram a casa alugada que ainda estavam mobiliando e foram para o Líbano. As mães de ambos ficaram por lá.


Do Líbano eles foram à Turquia e tentaram chegar à Alemanha, onde moram os irmãos de Andi e ela poderia obter um bom tratamento médico, mas eles não conseguiram o visto.
Foi quando ficaram sabendo da comunidade árabe que tem ajudado alguns sírios que chegam ao Brasil. “Disseram que ela poderia ter um bom tratamento médico aqui”, diz o marido de Andi.
Os dois agora dividem um apartamento com mais duas famílias perto da Mesquita de Guarulhos. O marido procura emprego, e ela já foi levada à primeira consulta pré-natal. No entanto, ainda não foi a um médico que pudesse tratá-la das queimaduras. O comerciante libanês Hussein El Khatib, que está no país há mais de 20 anos e participou da entrevista como tradutor, diz que alguém da comunidade deve levá-la a algum especialista, mas isso ainda não ocorreu porque há muitas pessoas aguardando para serem atendidas na mesquita.


Andi ainda sente dor, e diz que a pomada que trouxe da Síria não está fazendo efeito no Brasil – segundo ela, por causa do clima quente, que gera mais desconforto.
Vaidosa, ela diz que fica especialmente triste quando compara sua imagem atual com fotos antigas suas: "Quando meu marido está perto, eu choro por dentro. Quando ele não está, eu choro alto. Chorei tanto que acho que não tenho mais lágrimas”.

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