Em meio à crise política no Egito, um grupo de 16 brasileiros permanece em um hotel perto do centro do Cairo, a capital do país, sem saber ao certo quando poderão viajar de volta ao Brasil. A servidora pública federal Luise Assad disse que ela chegou no dia 26 de janeiro ao país juntamente com um grupo de brasileiros para fazer um cruzeiro turístico e participar do casamento de uma amiga.
'Mas agora estamos ansiosos para voltar ao Brasil. Conseguimos antecipar o voo para esta quarta-feira, mas não sabemos se conseguiremos embarcar', disse Assad, que mora em Brasília.
'Quando chegamos ao Egito, já haviam protestos, mas a situação ainda estava boa. Fomos ao museu, às pirâmides e visitamos o centro do Cairo.'
Na última sexta-feira, houve confrontos abertos entre as forças de segurança e ativistas, paralisando o Egito. O aeroporto do Cairo cancelou vários voos e, desde então, turistas de todo o mundo lotam os terminais esperando embarcar de volta a seus países de origem.
Cruzeiro cancelado
Luise contou que a situação ficou ainda mais crítica quando o cruzeiro, programado para o sul do Egito, foi cancelado. O governo havia fechado todos os pontos turísticos do país por falta de segurança.
'Começamos a ficar nervosos. Passamos os dias entre os quartos e o saguão do hotel. Isso nos deu uma angústia muito grande.'
A irmã de Luise, a médica brasiliense Daniela Assad, contou à BBC Brasil que, na noite do dia 28 de janeiro, quando os manifestantes começaram a enfrentar a polícia pelo Cairo, confrontos ocorreram na avenida em frente ao hotel.
'De repente, as sirenes de emergência do hotel tocaram e muitos saíram correndo, pegando passaportes e dinheiro. Mas eu sou diabética e minha preocupação era pegar meus remédios', contou Daniela.
Ela disse que o gás lacrimogêneo usado pela polícia para dispersar a multidão chegava aos andares superiores do hotel, incluindo o oitavo andar, onde estava.
'O gás entrava no hotel e as pessoas gritavam histéricas. Eu fiquei muito assustada', relembrou.
Daniela foi ainda nesta segunda-feira para o aeroporto, onde deve aguardar seu voo, marcado para amanhã.
'Só quero ir embora agora, espero poder embarcar.'.
Vestido de noiva
A dentista Renata Ávila, de Belo Horizonte, aparentava mais tranquilidade após as tensões dos últimos dias.
'No início foi difícil, mas depois acostumei. Quero voltar para o Brasil, mas pretendo retornar ao Egito em outra oportunidade', disse.
Renata contou que a tensão foi maior quando o gás lacrimogêneo entrou pelas janelas e portas do hotel.
'Havia também o cheiro dos carros queimados na rua em frente ao hotel. Eu achei que ia ocorrer algo pior.'
O estilista Paulo Araújo, também de Brasília, veio ao país árabe para trazer um vestido feito por ele para o casamento de uma brasileira.
'Não vou esquecer aquela sexta-feira (dia 28) quando estávamos no hotel e eu desci levando o vestido para ir ao outro lado do Cairo. O motorista estava nervoso, dizendo que lá fora os manifestantes e a polícia estavam se confrontando.'
Mas ele disse que por volta das cinco horas da tarde na hora local (13h no Brasil), policiais e jovens pararam no meio da rua e começaram a rezar.
'Era o horário da oração muçulmana, e vi ali a oportunidade de sairmos com o carro em direção ao local do casamento.'
O estilista contou ainda que, durante o trajeto, seu motorista passava por barricadas feitas pelos manifestantes, subia nas calçadas e dirigia na contramão.
'Nesse momento, eu estava com meu celular do Brasil e consegui um breve sinal para ligar para os meus pais para tranquilizá-los', disse.
Araújo explicou que era a terceira vez que vinha ao Egito e que nunca imaginou que o país passaria por uma convulsão política como a atual..
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