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Indiana forçada a se casar aos 12 anos supera abusos e vira milionária

Indiana forçada a se casar aos 12 anos supera abusos e vira milionária

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:12

Uma mulher indiana de uma classe marginalizada, que chegou a tentar o suicídio para escapar da discriminação, da pobreza e dos abusos físicos, é hoje a presidente-executiva de uma empresa multimilionária da Índia.

A vida de Kalpana Saroj, uma executiva bem-sucedida e premiada, tem elementos que parecem saídos de um filme de Bollywood, com a superação de obstáculos até chegar a um final feliz.

Nascida em uma baixa casta do grupo dalit (uma população sul-asiática de várias castas considerada intocável), Saroj foi vítima de bullying na escola, forçada a se casar aos 12 anos, enfrentou pressões sociais para conseguir abandonar seu marido e tentou tirar sua própria vida.

"A primeira vez que cheguei em Mumbai (sul da Índia), sequer sabia aonde ir. Vinha de uma aldeia tão pequena. Hoje minha companhia dá nome a duas estradas na cidade", relata Saroj, resumindo as transformações que enfrentou em sua vida.

Sistema de castas

O sistema de castas da Índia é uma antiga forma de hierarquia social, em que a pessoa é desde seu nascimento classificada em uma categoria da sociedade. Quem nasce em castas mais baixas é historicamente fadado à discriminação.

"Os pais de alguns de meus amigos não me deixavam entrar em suas casas. Eu não podia participar de algumas atividades da escola por ser Dalit", diz Saroj, hoje com 52 anos.

Seu pai permitiu que ela obtivesse educação escolar, mas pressões sociais a forçaram a se tornar uma noiva aos 12 anos. Mudou-se para uma favela de Mumbai com seu marido, dez anos mais velho. Para piorar, começou a sofrer abusos.

"Fui maltratada pelo irmão mais velho do meu marido e pela mulher dele. Eles puxavam meu cabelo e me batiam, às vezes por coisas pequenas. Me sentia quebrada pelas agressões verbais e físicas."

O ato de abandonar um marido é fortemente repreendido na cultura indiana, mas, graças ao apoio de seu pai - que, durante uma visita a Mumbai, chocou-se ao ver a filha abatida e vestindo trapos -, Saroj conseguiu escapar de seu relacionamento abusivo.

O retorno de Saroj à sua aldeia natal, no entanto, foi visto como um fracasso pelos vizinhos. Para escapar da pressão social, ela focou suas energias em tentar obter um emprego e aprender a costurar. Mas mesmo após conquistar algum grau de independência, não conseguiu suportar a pressão.

"Certo dia decidi pôr fim à minha vida. Bebi três garrafas de inseticida", recorda. Foi salva por sua tia, que entrou no quarto e encontrou-se com ela espumando e convulsionando incontrolavelmente.

Virada

Foi um ponto de virada em sua vida. "Decidi que ia viver a minha vida e fazer algo grandioso."

Aos 16 anos, ela mudou-se de volta a Mumbai e foi morar na casa de um tio, para trabalhar como alfaiate. Começou recebendo um dólar por mês para operar máquinas de costura industriais. Foi recebendo seu salário aos poucos, mas, quando ela percebeu que o dinheiro seria insuficiente para pagar um tratamento de saúde para sua irmã doente, descobriu que precisaria ir além.

"Fiquei muito desapontada ao notar que o dinheiro importa sim na vida, e eu precisava ganhar mais", afirma.

Ela tomou um empréstimo do governo e abriu um empreendimento no setor de móveis. Fazendo jornadas de trabalho de 16 horas diárias - hábito que mantém até hoje -, acabou conquistando admiração no mundo empresarial.

Foi convidada a assumir o comando de uma empresa de produção de metais, Kamani Tubes, que estava fortemente endividada. Reestruturou e mudou a companhia. "Queria fazer justiça para os empregados da empresa", diz Saroj sobre sua motivação. "Tinha de salvá-la. Entendia a posição das pessoas que trabalhavam ali e precisavam pôr comida na mesa de suas famílias."

A Kamani Tubes é hoje uma empresa multimilionária, que emprega pessoas de diferentes castas. Saroj, por sua vez, casou-se novamente, com um executivo do setor moveleiro, e teve dois filhos.

Como dalit e como mulher, sua história é um ponto fora da curva num país onde tão poucos altos executivos têm origens marginalizadas.



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