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Síria aumenta tensão entre EUA e Rússia e expõe limites da diplomacia americana

Síria aumenta tensão entre EUA e Rússia e expõe limites da diplomacia americana

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:12

Carolina Cimenti

O conflito de 15 meses na Síria, descrito como guerra civil por autoridade da ONU nesta semana, mostra a cada dia com mais clareza as limitações diplomáticas dos Estados Unidos, de acordo com analistas políticos americanos ouvidos pelo iG. A razão dessa limitação seria a falta de instrumentos de Washington para lidar com o governo sírio e seu principal aliado, a Rússia.

“Uma ação militar contra o governo sírio é impensável neste momento porque apenas tornaria a situação do país mais frágil, e porque o Exército do regime de Damasco ainda é forte”, disse ao iG Tamara Cofman Wittes, diretora do Saban Center. “Então os EUA decidiram atacar diplomaticamente a Rússia. Mas essa estratégia será demorada e possivelmente fracassará. O problema é que ela é a única opção para os americanos nesse momento.”

A Rússia e a Síria têm uma relação militar de longa data, e a Síria abriga a única base naval da Rússia no Mar Mediterrâneo. Mas perante a violência brutal do regime contra os opositores, os EUA vêm fazendo repetidos apelos para que a Rússia mude de posição em relação ao conflito. 

Juntamente com a China, a Rússia bloqueou por duas vezes condenações da ONU e ações punitivas contra o regime. Por várias vezes, os dois países também declararam sua forte oposição a uma intervenção internacional ou a esforços de mudança de regime no país árabe. Na terça-feira, a secretária de Estado Hillary Clinton disse que os EUA estavam preocupados com o envio de helicópteros de combate à Síria pela Rússia, informação que o chanceler russo, Serguei Lavrov, negou.

Para Stephen Zunes, especialista em Oriente Médio na Universidade de São Francisco, o problema americano ao tentar negociar com a Rússia para que o país não apoie e arme o governo Sírio é “falta de moral”. Ele argumenta que, apesar de ser inaceitável a Rússia e a China usarem seu poder de veto no Conselho de Segurança para barrar resoluções mais duras contra Damasco, os próprios EUA já recorreram muito mais vezes a esse recurso na ONU em situações que beiravam o ilegal.

“No total, desde 1970, a China usou seu poder de veto oito vezes. A Rússia, 18. E os EUA, 83 vezes. Para piorar, no ano passado o governo do presidente Barack Obama vetou uma resolução, que caso contrário teria passado de forma unânime, que tornaria ilegal os assentamentos israelenses em territórios palestinos. Por essas e outras, a Rússia considera fraco o argumento americano para convencê-la a votar contra seu maior aliado no Oriente Médio, o presidente sírio Bashar al-Assad”, disse.

Michael Doyle, professor da Universidade de Columbia para assuntos internacionais concorda. “Legalmente, não há nada que os americanos ou outros países da ONU possam fazer contra a ajuda russa à Síria. O único jeito de interrompê-la é convencendo o presidente russo, Vladimir Putin, de que um futuro governo sírio, vindo da oposição, continuaria protegendo os interesses russos na região e abrigando a única base militar russa na área do Mediterrâneo. Mas isso é quase impossível, porque qualquer governo que venha depois de Assad será completamente imprevisível”, disse Doyle, acrescentando: “As limitações americanas estão ficando cada vez mais explícitas nesse caso.”

E se diplomaticamente os EUA estão com dificuldades para facilitar uma solução para a crise síria, uma intervenção militar, pelo menos por enquanto, está completamente fora de cogitação por dois motivos.

Em primeiro lugar, Obama está em um ano eleitoral, e a entrada em uma nova guerra e seus subsequentes gastos arriscaria desgastar ainda mais a sua imagem.

Em segundo, a Síria está localizada em uma área estratégica muito mais delicada que a Líbia, que no ano passado foi palco de uma ofensiva da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para ajudar os rebeldes locais contra o ex-líder líbio Muamar Kadafi, que foi morto em outubro.

A Síria mantém fronteira com Israel, Jordânia, Turquia, Líbano e Iraque. Mas mais do que isso, a Síria é praticamente considerada território russo no Oriente Médio, e conta com um Exército muito mais potente que os outros países que passaram pela Primavera Árabe, como a Líbia e a Tunísia.

Além disso, Zunes avisa que qualquer ação militar americana contra o governo sírio, ou mesmo ajuda americana para armar os rebeldes da oposição, acabaria sendo usada pelo próprio Assad como argumento para continuar atacando sua própria população.

“Esse governo tem mais de 40 anos de experiência populista em distorcer as informações para se autolegitimar. Um ataque americano cairia como uma luva, e possivelmente a própria população acabaria virando contra os EUA nesse caso”, disse, referindo-se ao tempo da dinastia Assad no poder na Síria. Bashar, que está na presidência há 11 anos, sucedeu ao seu pai, Hafez al-Assad, que governou o país por 30.


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