Em 1º de maio de 2011, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciava em cadeia nacional que o ex-líder da rede Al Qaeda Osama bin Laden havia sido morto em uma operação realizada por forças de elite norte-americanas em uma base militar em Abbottabad, perto de Islamabad, capital do Paquistão. O corpo teria sido lançado ao mar.
Um ano depois da morte, especialistas ouvidos pelo UOL avaliam que os desafios a serem enfrentados no âmbito da segurança internacional seguem os mesmos. E apontam debilidades na atuação dos EUA.
“O problema da segurança internacional continua no mesmo pé, porque quando Bin Laden foi morto já não representava nada do ponto de vista da ação internacional. A morte dele foi um gesto de importância simbólica para os Estados Unidos”, afirma Tullo Vigevani, professor de Relações Internacionais da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Marília (SP).
Professor de Relações Internacionais da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), Reginaldo Nasser tem a mesma opinião. “Depois do 11 de Setembro, Bin Laden passou a ser o maior inimigo dos EUA, portanto era esperado que a Al Qaeda reformulasse o seu modo de operar, e que ele passasse a ser apenas uma liderança política. Então, a morte dele não alterou em nada a atuação da rede. Foi uma vitória apenas em termos simbólicos, já que [o ex-presidente dos EUA George W.] Bush havia personificado a luta contra o terrorismo na figura de Bin Laden.”
Esta personificação ocorreu após os atentados de 11 de Setembro de 2001, contra as Torres Gêmeas do World Trade Center (WTC), em Nova York, e o Pentágono, na Virgínia, que deixaram mais de 3.000 mortos e desencadearam a guerra do Afeganistão um mês depois.
No ano passado, o presidente Obama anunciou que os EUA vão retirar todas as suas tropas do Afeganistão até o final de 2014. Mas a decisão tampouco tem ligação com a morte de Bin Laden, segundo os professores.
Vigevani diz que a discussão sobre a retirada do Afeganistão “é muito anterior à operação que matou Bin Laden” e, além disso, está ligada “aos resultados eleitorais [do pleito presidencial] de novembro”, em que Obama busca a reeleição pelo Partido Democrata.
Nasser, por outro lado, acredita que os EUA perceberam que “não tinham como ganhar esta guerra”, pois a atuação do Taleban junto à população é muito forte. “Alguns grupos dentro do Taleban praticam atos terroristas, mas o partido tem vínculos fortes com o território, com as tribos locais e a população afegã. A Al Qaeda não tinha isso, era uma rede que vinha de fora e hoje está muito fraca no país. Os EUA se viram confrontados com o Taleban, e não com a Al Qaeda, e perceberam que não tinham como ganhar essa guerra”.
Os últimos atentados perpetrados pelo Taleban em Cabul evidenciam o quanto está fracassando a ocupação militar. “É impressionante ver o Taleban atacando embaixadas [norte-americana e britânica] e sedes da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] na própria capital. Para fazer isso, o grupo tem que estar bem-estruturado e contar com o apoio da população. É uma mensagem clara às forças militares ocidentais, dizendo para irem embora”, continua Nasser.
Debilidade
A própria operação que matou Bin Laden, há um ano, demonstrou um aspecto frágil dos EUA, segundo Nasser. “Eu vejo, no fundo, uma fraqueza. Quer dizer, a maior ameaça ao mundo não tinha telefone, internet e estava rodeado de mulheres e crianças. Os EUA mandaram a elite da elite para pegar um homem debilitado e desarmado. Isso só simboliza que Bin Laden não era mais nada [para a Al Qaeda e em termos de segurança internacional], e denota a fraqueza dos EUA no sentido da legitimidade, pois alardeiam princípios que eles próprios não cumprem, como prezar pelo julgamento de pessoas.”
Vigevani conclui que, nesta guerra, “os métodos clássicos de ação militar não produzem resultados”. “Os Estados Unidos precisam reformular sua política externa em médio ou longo prazo. Não é possível ganhar uma guerra onde a oposição local é grande. O balanço [de 11 anos de ocupação militar] é que a intervenção norte-americana está fadada ao fracasso”.
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