O Arminianismo e o Sola Gratia

A encarnação do nosso Senhor Jesus Cristo é a manifestação total da graça de Deus para a humanidade.

Fonte: Guiame, Ediudson FontesAtualizado: quarta-feira, 27 de setembro de 2023 às 17:13
(Captura de tela/YouTube/Messages of Christ)
(Captura de tela/YouTube/Messages of Christ)

A doutrina da graça é um ensinamento bíblico que é destacado nas Escrituras. Desde o Antigo Testamento, a manifestação graciosa de Deus é sempre demonstrada aos humanos. No Novo Testamento, a apresentação da encarnação do nosso Senhor Jesus Cristo é a manifestação total da graça de Deus para a humanidade. A graça de Deus é manifestada aos humanos caídos pelo pecado que herdamos na natureza adâmica. Por essa consequência, estamos espiritualmente mortos em nossos pecados (Efésios 2:1).

O ensino bíblico da graça é sólido, rico e muito importante, razão pela qual alguns teólogos denominam esse ensinamento como “as antigas doutrinas da graça”.

A Reforma Protestante tem com um dos seus axiomas a expressão “sola gratia”.

Muitos associam a doutrina da graça ao calvinismo, por concluir que só os calvinistas creem e ensinam a doutrina graça. Outros incluem os luteranos, porque defendem esse ensinamento como Martinho Lutero ensinou. Entretanto, não só os calvinistas e luteranos creem na manifestação da graça de Deus. Os arminianos também creem na Sola Gratia em igualdade com os reformadores.

Segundo Roger Olson, “o fundamento essencial do pensamento do arminianismo clássico é a graça preveniente. Toda a salvação é absoluta e inteiramente da graça de Deus” (OLSON, 2013, p. 205).

A teologia arminiana crê na doutrina da graça de Deus porque ela é bíblica, e é só por intermédio da graça do Eterno que somos salvos. Não há mérito humano no plano da salvação. É tudo pela graça de Deus! Infelizmente, ainda há teólogos que fazem “fakes News” acerca da teologia arminiana, afirmando que é uma teologia antropológica que enaltece o ser humano e sua capacidade de tomar iniciativa no plano da salvação. Mas isso não é verdade!

O Arminianismo ensina que somos salvos pela graça de Deus porque nenhuma obra humana tem essa capacidade de alcançar a graciosidade operação de Deus. É o soberano Deus que toma iniciativa do plano da salvação.

A teologia arminiana define essa ordo lalutis como “graça preveniente” que significa “a graça que toma iniciativa”. O teólogo holandês Jacó Armínio, em seus escritos, sempre destacou a graça de Deus na sua manifestação inteiramente divina, sem colocar méritos humanos. Armínio destacou que “esta graça é simples e absolutamente necessária para o esclarecimento da mente, a devida ordenação dos interesses e sentimentos, e a inclinação da vontade para o que é bom. É esta graça que opera na mente, nos sentimentos e na vontade.” (ARMÍNIO, 2015, p. 406).

Na declaração do teólogo holandês está bem clara a sua definição acerca da graça de Deus. Não há nenhum indício nessa citação ou entre outros escritos de Jacó Armínio, que defenda exacerbadamente o livre-arbítrio. Na teologia arminiana, a graça de Deus toma a iniciativa porque o ser humano está morto no pecado. É a mesma graça que capacita o ser humano a corresponder a sua graça (João 16:7-11). A graça de Deus liberta da escravidão do pecado, o que a teologia arminiana define como “livre-arbítrio libertário”, pois só a graça de Deus que liberta o ser humano do pecado!

A Sola Gratia é um dos axiomas da teologia dos reformadores. No contexto dos reformadores, a graça de Deus não era valorizada como ensinam as Escrituras. Se passaram mais de quinhentos anos do acontecimento da Reforma, mas a necessidade de falarmos deste assunto é de extrema importância.

A valorização da exaltação humana é muito presente no evangelicalismo brasileiro. Pensamentos e conceitos semipelagianos são muito fortee na prática eclesiástica e no diário dos evangélicos. Pensamentos como o legalismo religioso, campanhas que só visam tirar dinheiro do povo, entre outros absurdos que ocorrem, são provas urgentes de que a pregação da graça de Deus deve ser destacada nos púlpitos das igrejas.

Por causa desses escândalos e de outros situações desagradáveis que acontecem nas igrejas, acabam por associar o arminianismo a essas práticas. Trata-se de uma acusação gravíssima, pois os arminianos não possuem uma teologia desvirtuosa da essência da fé cristã. Os que acusam, de forma irresponsável, no mínimo, desconhecem o arminianismo ou fazem essas declarações por motivações erradas. Só Deus sabe o que vai na mente e as motivações desses acusadores!

John Wesley, fundador do metodismo e arminiano, em seus sermões, seguia fielmente o axioma Sola Gratia na mesma ênfase que Jacó Armínio os reformadores.

Thomas Oden classifica os estágios da graça na teologia de Wesley dessa forma: “Graça preveniente, graça convencedora, graça justificadora e graça santificadora” (COUTO, 2016, pp. 168 – 194).  Embora faça essa classificação, Wesley defendia que é a própria graça de Deus que opera na vida do ser humano.

Não há nada de semipelagianismo na teologia de Wesley. A sua teologia era enfatizada pela graça de Deus. Sendo assim, podemos concluir com a citação de Fontes, afirmando que “o arminianismo segue o sola da Reforma: Somente pela graça” (FONTES, 2019, p.59).

Referências bibliográficas:

ARMÍNIO, Jacó. As Obras de Armínio – Volume 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2015.

COUTO, Vinicius. Em favor do arminianismo-wesleyano: um estudo bíblico, teológico e exegético de sua relevância contemporaneidade. São Paulo: Editora Reflexão, 2016. 

FONTES, Ediudson. Reforma Protestante e Pentecostalismo – A conexão dos cinco solas e a teologia pentecostal. São Paulo: Editora Reflexão. 2019.

OLSON, Roger E. Teologia Arminiana: Mitos e Realidades. São Paulo. Editora Reflexão, 2013.

Ediudson Fontes é Pastor auxiliar da Assembleia de Deus – Ministério Cidade Santa no RJ. Teólogo. Pós-graduação em Ciência das Religiões. Mestrado em Teologia Sistemática. Professor de Teologia, autor das obras: “Panorama da Teologia Arminiana”, “Reforma Protestante e Pentecostalismo – A Conexão dos Cinco Solas e a Teologia Pentecostal” e “A Soteriologia na relação entre Arminianismo e Pentecostalismo”, todos publicados pela Editora Reflexão. Casado com Caroline Fontes e pai de Calebe Fontes.

* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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