#Gaza e as lições que aprendo

O genocídio de Gaza me leva a querer reaprender o significado de ser discípulo de Jesus

Fonte: guiame.com.brAtualizado: terça-feira, 22 de julho de 2014 às 15:14
Faixa de Gaza
Faixa de Gaza

Faixa de GazaNo Ceará, desde menino aprendi que é indigno bater em bêbado. Reajo tempestivamente ao genocídio palestino. Minhas vísceras se contorcem quando vejo uma criança mutilada por estilhaços. Sinto-me culpado por dormir seguro. Me revolto com a minha impotência. Não me conformo por ser insignificante. Alucino. Mas acabo me resignando, angustiado. Não tenho cacife político para gritar basta.

Como é que se bombardeia uma população indefesa, sem exército e sem lugar para se esconder? Não entendo o cinismo de uma nação que, antes de despejar bomba e mais bomba, manda o povo fugir. Mas fugir para onde? As fronteiras estão seladas. Um muro não deixa ninguém entrar ou sair. Não existem abrigos, bunkers ou refúgios em Gaza. A carnificina é pavorosa.

Para mim, essa guerra não passa de limpeza étnica. Israel procura humilhar o povo palestino até o pó; deseja quebrar a coluna dorsal da sua identidade. Israel espera que os palestinos parem de aporrinhar e sejam dóceis e submissos. Quem sabe, a ralé insignificante que mora no maior presídio da humanidade, não sirva de exemplo para os países vizinhos, árabes e persas? A lógica pode ser a do recado: Não ousem, vejam o que somos capazes de fazer com nossos inimigos.

Faço uma pergunta a quem defende esse massacre: Caso Israel consiga dizimar o Hamas, o que pretende fazer com Gaza? Os Palestinos serão reconhecidos como uma nação soberana, com todos os direitos de todos os países da comunidade internacional? Os palestinos vão emitir passaporte, exportarão seus produtos? Construirão um aeroporto? Terão o direito de ir e vir? Israel afirma que a população de Gaza se dispõe a ser escudo humano de um grupo terrorista. Quem vê o desespero das mães curvadas sobre o corpo dos filhos, sabe que essa propaganda de guerra é mentirosa e cínica. Se a causa de Israel é nobre, por que insistir em demonizar as famílias que morrem como inseto?

Mas mesmo horrorizado, aprendo. Eventos tenebrosos como os que testemunho me ajudam a admitir: deixei de ler a Bíblia com as lentes do evangelicalismo que havia abraçado antigamente. Abandonei a idéia de que os massacres da Bíblia hebraica – Antigo Testamento - fossem ordens divinas. Entendo que os genocídios relatados nas Escrituras tinham as mesmas motivações políticas, os mesmos interesses econômicos e as mesmas ambições nacionalistas que observo atualmente. Atribuiam-se carnificinas a um deus guerreiro. Já não aceito que os propósitos divinos para o futuro dependam da política militarista de Israel ou de um partido de extrema direita. Me arrependo de ter, um dia, pregado frases do tipo: Israel é o relógio de Deus; Israel é a menina dos seus olhos – e bobagens semelhantes.

O genocídio de Gaza me leva a querer reaprender o significado de ser discípulo de Jesus. Um dos meus primeiros passos será crescer em não-violência e pacifismo. Acredito que Jesus Cristo encarnou a plenitude da divindade não como o deus bélico, sanguinário e legitimador de carnificina, mas como o pai frágil e amoroso da parábola do filho pródigo. Todas as visões guerreiras do Apocalipse ficam, portanto, sobrepostas pela visão do capítulo 5.6: Depois vi um Cordeiro, que parecia ter estado morto, em pé, no centro do trono… Com a guerra, levo mais a sério as bem-aventuranças do Sermão do Monte. Elas balizarão não apenas meus comportamentos individuais como servirão para me ajudar a criticar decisões geopolíticas. Jamais aceitarei revide e vingança como parte de meu sentido de vida. Permaneço fiel à declaração da fé: Jesus é o príncipe da paz.

Soli Deo Gloria


- Ricardo Gondim

 

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