Desde a adoção do novo Regulamento sobre Assuntos Religiosos no ano passado, que, entre outras coisas, proíbe que crianças frequentem locais de culto, escolas em toda a China adotaram medidas sem precedentes para manter os estudantes longe das questões de fé.
Como parte de seus currículos, os jovens são ensinados nas escolas que acreditar em Deus é anormal e os professores os incentivam a delatar seus parentes religiosos.
A política da China resultou em situações difíceis para muitas famílias: as crianças são ensinadas a se opor aos seus parentes religiosos, elas sofrem grande estresse psicológico por medo de que seus pais ou entes queridos possam ser presos porque vão à igreja.
A postura do regime chinês faz parte da preparação de ateus desde a tenra idade, nos jardins de infância e escolas primárias, segundo informa Bitter Winter.
Professor diz que o cristianismo é um xie jiao
O filho de uma mulher cristã que frequenta a escola primária encontrou um panfleto sobre o cristianismo em casa. “Meu professor diz que o cristianismo é um xie jiao. Se você acredita nisso, você vai sair de casa e não cuidar de mim. Você também pode se incendiar”, disse o menino preocupado.
Ele então tirou da bolsa um livro didático da escola, Morality and Society, e mostrou à mãe o conteúdo relacionado a xie jiao. O texto também explica como resistir a esses grupos religiosos.
"A professora nos disse durante a aula que os grupos xie jiao são tão terríveis", contou ele, pedindo a sua mãe para rasgar o folheto religioso.
Xie jiao
Desde o final da era Ming, a China usou xie jiao para designar movimentos religiosos que o governo não gosta. Sua repressão sempre foi brutal, mas o que é um xie jiao, está longe de ser claro.
Bitter Winter publicou em 27 de julho de 2018, um documento secreto do Partido Comunista Chinês (PCC), detalhando uma vasta campanha destinada a “erradicar” grupos classificados como xie jiao.
A expressão chinesa xie jiao é traduzida em documentos oficiais chineses para o inglês como "cultos" ou "cultos do mal". A tradução, no entanto, está errada e está ligada a uma tentativa de argumentar que o problema dos "cultos" não é apenas chinês, mas internacional. Uma tradução mais correta seria "ensinamentos heterodoxos".
A preocupação Ming com xie jiao estava enraizada em uma tradição centenária de movimentos milenaristas chineses tentando superar os governos.
Enquanto alguns deles representavam ameaças muito reais ao Império, outros eram banidos com base em uma variedade de considerações políticas e religiosas.
O que os ensinamentos eram "heterodoxos" era determinado pelo imperador, e as listas de xie jiao eram baseadas em fundamentos teológicos e políticos. Por exemplo, o cristianismo como um todo foi classificado como xie jiao em 1725, mas retirado da lista em 1842, devido à pressão política e militar do Ocidente.
O Partido Comunista Chinês nomeou os grupos religiosos que crescem rapidamente e não estão sob seu controle como xie jiao, que são severamente processados.
Muitas vezes, porém, as autoridades usam o rótulo de "ensinamentos heterodoxos" para reprimir igrejas domésticas cristãs e outros grupos religiosos que não estão na lista dos xie jiao. A prática, ao que parece, também se infiltrou nas escolas, para manipular e confundir os jovens estudantes. Perguntas sobre xie jiao também estão incluídas no exame final para as escolas primárias.
Fé escondida
Temendo causar problemas para seu filho e para si mesma, a mãe escondeu todos os símbolos religiosos e outros itens relacionados à sua fé. No entanto, isso ainda não aliviou as tensões com o filho.
Um mês depois, quando seu filho encontrou outro folheto religioso na bolsa de sua mãe por acaso, ele furiosamente pegou uma faca de frutas da cozinha o perfurou várias vezes. Depois, ele ameaçou sua mãe a desistir de sua fé, porque "o cristianismo é um xie jiao, e ela não deve acreditar nisso."
A mulher ficou chocada com o comportamento agressivo do filho. Como poderia uma criança inocente e obediente ter ficado tão deformada? Com o que exatamente a escola doutrinou seu filho?
“Antes de começar a escola, contei ao meu filho sobre a criação de Deus e ele acreditou. Mas depois de ser ensinado na escola, meu filho se transformou uma pessoa diferente. Na China ateísta, essas crianças puras e inocentes foram ensinadas a odiar a Deus”, disse amargamente a cristã.
Delação dos pais
No final de abril, uma escola primária na cidade de Xinzheng, na província central de Henan, realizou uma reunião para estudantes sobre como se opor à religião.
Um diretor de escola disse aos estudantes para serem ateus e nunca acreditar na existência de divindades. "Se sua mãe vai à igreja e acredita em Deus, ela não quer mais você como filho", ameaçou a professora.
Outro professor de escola primária em Xinzheng mostrou aos estudantes um filme de propaganda anti-religião animado, no qual crentes são descritos como monstros negros. A professora também disse aos alunos que as pessoas religiosas poderiam azará-los e que eles deveriam informar à polícia qualquer crente que encontrassem.
A mãe de um aluno na escola disse que seu filho não se opunha a sua crença na religião inicialmente, mas depois de algumas aulas, ele começou a se comportar totalmente diferente, passando a se opor ativamente a sua mãe ao ler livros religiosos. Os pais de outra aluna revelaram que ela se sente assustada, temendo que a polícia a tire de sua mãe cristã.
Alunos de uma escola primária no condado de Linzhang, na província de Hebei, no norte, foram obrigados a supervisionar seus pais para garantir que eles não participassem de nenhuma atividade religiosa. Como resultado, um estudante pediu ao pai cristão que não acreditasse em Deus porque era anormal e perigoso. “Isso leva a um beco sem saída. Se você assistir a reuniões, será preso”, disse o menino com preocupação.
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