Pastor, missionário e evangelista, Solomon Raj esteve pela primeira vez no Brasil, um dos 44 países que visita ao longo de sua vida para pregar o Evangelho.
Essa condição faz parte de um “acordo” que Solomon fez com Deus, há mais de 30 anos, quando, após sofrer um acidente que o imobilizou, disse que se Deus curasse suas pernas, ele as usaria para pregar em muitas nações.
Nascido em Chennai, no sul da Índia, atualmente ele é pastor sênior da New Beginning Ministries (NBM), no estado de Preston, no Reino Unido, onde vive com a esposa Mônica e as filhas, Joanna e Susanna Raj.
Acompanhado pelo evangelista Naiju Daniel e por Cláudio Modesto, líder da Nossa Comunidade São Paulo, o pastor Solomon concedeu uma entrevista exclusiva ao Guiame na tarde de 26 de janeiro. Ele trouxe informações sobre a perseguição religiosa e as dificuldades que os missionários enfrentam naquele país.
Da esquerda para direita: tradutor Kayan Carmo, Pr. Solomon Raj (Índia/Reino Unido), Pr. Marcos Correa, do Guiame, Pr. Naiju Daniel (Índia/Irlanda), Pr. Cláudio Modesto e Hzikiel Munawar (Paquistão). (Foto: Guiame)
De acordo com a atualização da Lista Mundial da Perseguição da Portas Abertas, referente a 2022, a Índia ocupa a 10ª posição como país em que o cristianismo é mais perseguido, com seus praticantes sendo alvo de violência, expulsão de suas casas, famílias e terras e, não raro, vítimas de assassinatos.
Apóstolo Tomé
O pastor Solomon contou que o cristianismo é perseguido em seu país de origem desde que Tomé, o apóstolo de Jesus, chegou na Índia (em 52 d.C.) para compartilhar o Evangelho.
Ao chegar em Kerala (ou Querala), no sul do país, um dos 32 estados indianos, Tomé começou a fazer seu trabalho missionário entre as pessoas de língua tâmil.
“Ele estava ministrando para o povo, e o Espírito Santo estava fazendo grandes coisas no meio deles. As pessoas estavam sendo curadas e principalmente aquelas que costumavam praticar idolatria”, contou. “Mas desde o primeiro dia de Tomé ali e após ele ter fundado uma igreja em Kerala, a perseguição começou”.
“Muitos queriam matá-lo, mas a proteção de Deus estava com ele. Por isso Tomé conseguiu viajar por todos os 36 distritos”, relatou.
O pastor contou ainda que oi apóstolo Tomé teve a chance de compartilhar o Evangelho com o rei daquela localidade, que o prometeu um distrito muito rico, além de repassar a ele parte dos recursos gerados ali, desde que se tornasse hindu e abandonasse o cristianismo.
“Tomé disse ‘não’ e falou: ‘Eu quero que você seja salvo’. E o rei ficou impressionado”, contou Solomon.
Milagre e perseguição
O pastor lembrou que a história sobre Tomé diz ainda que o filho do rei, que havia morrido, foi ressuscitado pela oração daquele apóstolo de Cristo. Mesmo assim a perseguição se manteve:
“Tomé costumava ir para as montanhas, orava horas e horas lá. Todos os inimigos, extremistas hindus, ficavam procurando coisas para acusá-lo e prendê-lo. Como eles não podiam matá-lo durante o dia, porque ele tinha o favor do rei, eles procuravam momentos à noite, quando ele estava orando nas montanhas, para matá-lo com arco e flecha”, explicou.
Apesar da perseguição, Tomé conseguiu construir uma igreja em Kerala, onde foi enterrado após ser martirizado. Uma outra igreja na montanha também foi levantada em sua homenagem, chamada até hoje de ‘Montanha de São Tomé’.
Pr. Solomon Raj ministrando na Comunidade Avivamento em Cristo, liderada pelos pastores Silvio Oliveira e Damares Veríssimo. (Foto: Jéssica Bueno)
“Tomé construiu a igreja com suas próprias mãos. Dizem que seus ossos foram colocados ali. Pediram para levar seus ossos para Roma, pois a igreja começou a ser ocupada por católicos. Então, de geração em geração, a história [sobre perseguição] continua até hoje”, lembrou.
Apesar da forte perseguição, a Índia atualmente tem cerca de 5% da população cristã, o que corresponde a aproximadamente 70 milhões de pessoas.
O pastor contou que os tipos de perseguição mais comuns realizada por extremistas hindus são acusações falsas de conversão forçada, agressões físicas e destruição de igrejas.
“Cristãos não são bem-vindos na Índia porque para os indianos Jesus é um Deus estrangeiro”, contou.
“Para os extremistas, apenas hindus podem existir lá. A vaca é um deus, mas qualquer outro ‘de fora’ não é considerado Deus. O Deus dos cristãos é um Deus estrangeiro, por isso dizem: ‘Não o queremos’. Outras religiões, qualquer que sejam, não são aceitas”, disse.
No entanto, Solomon relatou que, entre todos os outros grupos religiosos, os cristãos têm mais problemas no país, pois os missionários são acusados de conversão forçada.
“Eles apenas compartilham o Evangelho com as pessoas e Deus muda a vida delas. Mas o governo diz que eles é que estão convertendo os indianos e assim os proíbem de estar lá”, explicou.
Dificuldades e abusos contra cristãos
Solomon confirmou que há muitos abusos praticados contra os cristãos na Índia, como invasões de casas, famílias perseguidas e agredidas, inclusive durante as reuniões particulares de oração entre eles.
“Nossos amigos pastores têm passado por isso”, disse.
Ele acredita que o único jeito de resolver o problema é tendo união entre os pastores.
“Os líderes da igreja precisam estar juntos, em união. Só a unidade vai levar a perseguição para fora. Essa perseguição ataca as áreas mais pobres, onde os pastores não têm voz”, disse. “Mas os pastores de grandes igrejas em regiões ricas não passam por perseguição. E eles não se importam com as áreas dos pastores mais pobres. Então existe essa polaridade e não unidade”.
Os pastores das igrejas menores ainda sofrem com o descaso das autoridades: “Quando os policiais os levam para a delegacia, eles reclamam seus direitos, mas as autoridades não respeitam a lei. Por não terem dinheiro, seus casos ficam sem solução”.
“A única forma de vencer a perseguição é através da união. Do contrário, ela vai continuar”, avaliou.
Lei anticonversão
Solomon contou que os partidos mais fortes na Índia, que controlam nove estados principais, são os responsáveis por implantar a lei anticonversão, que proíbe pregar o Evangelho aos indianos. Segundo ele, o governo atual é conectado com esses partidos, razão pela qual o cristianismo não encontra respaldo governamental.
A lei anticonversão fez tudo piorar. Nessas áreas não é permitido pregar nada do Evangelho, explicou o pastor. “Até se você pagar dízimo, você apanha. A igreja é sempre atacada”, disse.
Pr. Solomon Raj, sua esposa Mônica e as filhas Joanna e Susanna. (Foto: Arquivo pessoal)
Solomon disse que esse tipo de perseguição não é muito exposto pela mídia porque a “perseguição é um estilo de vida” no país.
“A única forma de derrubarmos essa perseguição é através da unidade do corpo de Cristo. Se nós conseguirmos chegar a um consenso para termos união, o inimigo será destruído. A Bíblia diz que devemos resistir ao diabo e ele fugirá de nós. Para resistir é preciso união”, disse.
“As denominações cristãs na Índia têm que entender que nós todos estamos servindo a um único Mestre, e o nome dele é Jesus. A gente não pode mudar a questão da denominação, porque é uma raiz em cada lugar. Deixa a denominação como está, não precisa mudar, mas nós podemos nos juntar e nos unir no nome de Jesus. Então quando isso acontecer, o inimigo vai ver e reconhecer que a Igreja é forte”, declarou.
Cruzadas são estratégicas
O pastor disse que as dificuldades em pregar o Evangelho fizeram com que os missionários criassem estratégias para alcançar os indianos.
“Quando vamos fazer missões, agora somos considerados estrangeiros na Índia, mesmo tendo nascido lá. Isso porque temos a cidadania do país onde residimos (no caso do Pr. Solomon, o Reino Unido). Não precisamos aplicar para o visto para entrar na Índia, podemos visitar nossa família, mas se for para pregar, somos banidos de lá para sempre”, contou.
Ele citou o caso do evangelista George Verwer, fundador da ‘Operation Mobilization’ (OM), uma organização missionária cristã, que enviou muitos missionários para Índia, com toda a estrutura para realizar evangelismo porta a porta, como vans.
“Naquele tempo, o partido que liderava não perseguia, não causava problemas para os missionários, mas com a chegada do partido extremista hindu ao governo, nem mesmo a organização de Verwer pode entrar na Índia”, disse.
Solomon conta que para ser missionário é preciso ter muita sabedoria, e trabalhar com os coordenadores certos. Eles não ficam mais de 10 dias no país: “Ficamos uns quatro dias. Organizamos grandes cruzadas, pregamos o Evangelho e saímos de lá. É isso que os missionários estão fazendo, como uma estratégia”.
Solomon disse que o crescimento do Evangelho se dá em parte por esse tipo de estratégia.
Ele diz que apesar da perseguição, a Índia tem muitos bons pastores, que têm sacrificado suas vidas para cumprir sua missão que o apóstolo Tomé iniciou.
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