Divisão histórica na igreja ortodoxa é maior ruptura desde a reforma protestante

Com 300 milhões de seguidores, a igreja Ortodoxa é a segunda maior comunhão unida cristã do mundo.

Fonte: Guiame, com informações da Reuters e Folha de S. PauloAtualizado: segunda-feira, 7 de janeiro de 2019 às 12:12
Poroshenko (à esquerda), o patriarca Bartolomeu I (centro) e o metropolitano Epifânio em Istambul (à direita). (Foto: Ozan Kose/AFP).
Poroshenko (à esquerda), o patriarca Bartolomeu I (centro) e o metropolitano Epifânio em Istambul (à direita). (Foto: Ozan Kose/AFP).

A Igreja Ortodoxa da Ucrânia passou a ser independente de Moscou no sábado (5). O reconhecimento foi feito pelo líder espiritual desse ramo do cristianismo, o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I. O ato é estopim para o maior cisma cristão desde a reforma protestante do século 16 e é um importante capítulo na disputa entre russos e ucranianos. 

Após celebrar a festa da Epifania na Catedral de São Jorge, em Istambul, Bartolomeu I entregou o tomo (certificado) de “autocefalia” à igreja Ortodoxa da Ucrânia. 

A autocefalia é o status de uma igreja cristã hierárquica cujo bispo principal não se reporta a nenhum bispo de nível superior. Ou seja, promove a independência de um grupo cristão daquele ao qual estava submisso. 

Os cerca de 300 milhões de ortodoxos no mundo não obedecem a uma autoridade administrativa central. Em assuntos religiosos, contudo, a palavra final é do patriarca da igreja originária da denominação. A igreja ortodoxa é a segunda maior comunhão unida cristã do mundo, atrás dos católicos (1,3 bilhão de fiéis). Protestantes são cerca de 920 milhões, mas fragmentados. 

Nova direção 

Com o documento, a igreja ortodoxa ucraniana passou a ser independe do patriarcado de Moscou, ao qual era submissa. A separação, um desejo antigo da Ucrânia, foi comemorada pelo presidente ucraniano Petro Poroshenko e mal recebida por Vladimir Putin, presidente da Rússia. Isso mostra o nível de tensão política que envolve o tema.

Presente na cerimônia, Petro Poroshenko felicitou a independência da Igreja de Kiev. “O ocorrido é um verdadeiro milagre que devemos à vontade do criador”, disse o líder no Twitter.

O líder ucraniano comparou o certificado a outra “ata de declaração da independência da Ucrânia”, ocorrida em 1991. “[Ela] fortalecerá a liberdade religiosa, a paz ecumênica e os direitos e liberdades dos cidadãos”, afirmou.

A igreja da Ucrânia passa a ser liderada por Epifânio, 39 anos, ungido na cerimônia em Istambul, cidade turca antes conhecida como Constantinopla.

“A unidade foi restaurada. Agora estamos unidos”, disse o novo chefe da igreja ucraniana à congregação, em pé ao lado de Bartolomeu, na frente da igreja lotada, ambos vestindo vestes cerimoniais e segurando bastões. 

Questões políticas 

A Igreja Ortodoxa Ucraniana está ligada a Moscou há centenas de anos, e os líderes da Ucrânia veem a independência da Igreja como vital para combater a intromissão russa.  

A Ucrânia tinha três denominações ortodoxas, a principal dela subordinada ao Patriarcado de Moscou, que é fortemente alinhado ao Kremlin. Seu líder, Cirilo, chama Putin de “milagre de Deus”. 

Kiev (sede do poder ucraniano) diz que as igrejas apoiadas por Moscou em seu território são um instrumento do Kremlin para espalhar propaganda e apoiar os separatistas na região oriental de Donbass em um conflito que já matou mais de 10 mil pessoas. As igrejas negam fortemente isso. 

A Ucrânia vê a ruptura como vital para sua segurança e independência, mas está fadada a agravar o conflito mais amplo entre os dois países. 

A Rússia se opõe fortemente à divisão, comparando-a ao Grande Cisma de 1054 que dividiu o cristianismo ocidental e oriental. O presidente Vladmir Putin alertou sobre possíveis derramamentos de sangue. 

“Pedimos a você, mãe igreja e todas as igrejas para orar pela paz na Ucrânia”, disse Epifaniy, acrescentando que o povo ucraniano vinha sofrendo há cinco anos por uma guerra “trazida de fora”. 

As relações entre a Ucrânia e a Rússia entraram em colapso após a tomada da Criméia por Moscou em 2014. A Ucrânia impôs a lei marcial em novembro, citando a ameaça de uma invasão em larga escala depois que a Rússia capturou três de seus navios no Estreito de Kerch.

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