Foi na cidade rural em Illinois, nos EUA, que Jennifer Milbourn quase perdeu a vida. No final de 1970, sua mãe biológica procurou um aborteiro para eliminar a bebê de 4 meses que estava em seu ventre.
Nessa fase da gestação, porém, o nascituro estava grande demais para o tipo de procedimento feito à vácuo: “O tubo do vácuo suga o bebê, mas parece que minha cabeça estava maior do que o aborteiro esperava”, explicou a jovem.
Jennifer explica que, possivelmente, a mãe mentiu sobre o tempo de gravidez. “O procedimento foi interrompido e eles disseram à minha mãe que ela sofreria o aborto de qualquer forma, já que o houve um rompimento na bolsa embrionária”, continuou.
‘Havia um segredo’
Parecia tudo bem para a mãe biológica de Jennifer, mas a gravidez avançou como um verdadeiro milagre. Sem opção, ela teve a filha e a deu para a irmã criar.
Jennifer sabia que era adotada, mas não conhecia toda a história. Ela conta que cresceu sentindo que havia algo de errado, como se houvesse um segredo e uma verdade que era escondida dela.
Foi só aos 19 anos que ela soube do passado pela sua mãe biológica, que ela chamava de tia. As duas estavam no carro, a caminho das compras, quando a conversa surgiu num tom de brincadeira.
“Eu a desafiei a me contar algo que eu não sabia sobre mim mesma e foi quando ela disse que eu havia sobrevivido à uma tentativa de aborto”, lembrou.
‘Enxuguei minhas lágrimas e construí um muro’
Jennifer relata que olhou pela janela da caminhonete e começou a chorar: “Eu tinha 19 anos e, naquele momento da minha vida, morando sozinha e tentando me descobrir como adulta, não estava pronta para entender como sobrevivi a um aborto”.
Sua mãe adotiva (e tia) que a viu chorando, mais tarde, também não estava preparada para lidar com aquele trauma. “Ela apenas me disse: ‘Agradeça por estar viva, está tudo bem. Pare de chorar.' Eu percebi que ela não sabia como reagir à minha reação”.
“Então, enxuguei minhas lágrimas, construí um muro e escondi isso por muito tempo”, continuou.
Um pouco mais sobre a história de Jennifer
Durante a gravidez, a mãe biológica de Jennifer apareceu na casa de sua irmã mais nova pedindo para ser levada a uma clínica de aborto. A irmã tentou persuadi-la a não abortar, oferecendo-se para adotar o bebê.
Mas, ela disse que isso a deixaria muito desconfortável e decidiu pelo aborto. E foi só quando o procedimento deu errado que ela teve que assumir a gravidez.
Ao tomar conhecimento desse episódio, Jennifer se fechou durante 6 anos. Foi só aos 25 anos de idade que ela conseguiu se abrir com alguém. Ela e o marido haviam se casado recentemente quando a verdade veio à tona.
Foi em 2014, num grupo de oração, quando Jennifer ouviu seu pastor dizer que havia sido adotado, que ela se sentiu confortável o suficiente para compartilhar que também foi adotada e que sobreviveu a um aborto.
“Eu chorei muito, mas meu pastor veio e me abraçou e aquele grupo de mulheres naquela sala me apoiou e me amou”, disse.
‘Não posso mais dizer que estou sozinha nisso’
Depois de tudo, naquele mesmo ano, Jennifer ainda se propôs a dar seu testemunho num evento para gestantes, onde compartilhou sua história publicamente pela primeira vez.
Então, em 2019, uma amiga apareceu no trabalho de Jennifer, animada para contar a ela que havia encontrado outra sobrevivente de aborto — Melissa Ohden, fundadora da Abortion Survivors Network (ASN).
“Ela sabia o que eu sentia. Eu nunca tive ninguém que tivesse experimentado as mesmas emoções que eu ao descobrir sobre sua sobrevivência”, observou.
Jennifer passou a fazer parte da ASN que já conta com 550 membros. Em 2021, ela foi promovida à equipe de liderança, atuando como coordenadora de engajamento da comunidade: “Fiquei muito grata porque agora não posso mais dizer que estou sozinha nisso”.
‘Felizmente, Deus salvou minha vida’
Conforme os relatórios da ASN, Em Minnesota, pelo menos 5 crianças foram apontadas como sobreviventes de abortos realizados em 2021. Na Flórida, 8 crianças também sobreviveram, em 2022, mesmo depois de terem passado pelo procedimento.
No geral, nos EUA, para cada 1.000 abortos, cerca de 2 bebês sobrevivem. “O destino desses sobreviventes de aborto é desconhecido, mas estima-se que o número de sobreviventes pode aumentar com a expansão do uso da pílula abortiva devido à sua maior taxa de aborto incompleto”, disse a organização. Desde 1973, 17.855 bebês sobreviveram a um aborto.
Hoje, Jennifer é esposa, mãe de três filhos e estudante de psicologia. Ela está aprendendo sobre a memória do corpo e percebendo que seus comportamentos quando criança eram indicativos do trauma que sofreu no útero.
“Eu não tive culpa, pois eu não fiz nada para justificar o fim da minha vida. Sendo tão pequena, não poderia fazer nada de errado. Isso é o que eu tive mais dificuldade em entender”, disse sobre o trauma resolvido.
“Felizmente, Deus salvou minha vida”, ela comemorou. Suas “duas mães” — biológica e adotiva — já morreram. Embora ela nunca tenha realmente falado com sua mãe biológica sobre a tentativa de aborto, ela garante que a perdoou, levando em conta que era uma alcoólatra e que havia rumores de abortos anteriores.
Além disso, a mulher foi manipulada a acreditar que “aborto é um serviço de saúde” e que certamente ela não se deu conta de que havia uma vida dentro dela.
Atualmente, Jennifer trabalha para que outros sobreviventes compreendam que a solidão que sentem tem solução. A organização está engajada em promover cura a todos os sobreviventes que se apresentarem. “Não vamos parar de avançar. Não vamos parar de compartilhar nossas histórias”, conclui Jennifer.
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