O conclave para eleger o novo papa da Igreja Católica começa nesta quarta-feira (07), na Capela Sistina, em Roma, reunindo 133 cardeais em total reclusão. Até mesmo o sinal da Internet foi cortado e só será restabelecido após o anúncio do resultado da eleição.
Este conclave, a reunião fechada dos cardeais da Igreja Católica para eleger um novo papa, é considerado o mais multicultural da história. Pela primeira vez, conta com representantes da Mongólia e Laos, na Ásia, e Mali, na África.
Também é considerado um dos mais imprevisíveis dos últimos tempos devido à grande diversidade de cardeais, representando 70 países.
Além disso, o conclave já evidencia embates ideológicos entre correntes progressistas e conservadoras dentro da Igreja, gerando discussões acaloradas nos bastidores.
Desde o início do século 20, os conclaves têm, em média, três dias de duração, até que a fumaça branca apareça na chaminé da Capela Sistina, indicando a escolha do novo papa. Caso a votação se prolongue por uma semana, os cardeais realizam uma espécie de segundo turno entre os favoritos.
“Agilidade é importante para transmitir unidade. Mas suspeito que desta vez não será muito rápido”, avalia o historiador polonês Piotr Kosicki, autor do livro Concílio Vaticano II – Atrás da Cortina de Ferro.
Articulações
Nos bastidores, diferentes grupos de cardeais – progressistas e conservadores – articulam estratégias para influenciar a escolha do novo pontífice.
Alguns dos nomes mais cotados incluem Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, que tem forte apoio entre diplomatas, e Luis Tagle, das Filipinas, que representa uma ala mais progressista.
Outros candidatos incluem o conservador Péter Erdő, da Hungria, e o italiano Matteo Zuppi, que tem apoio de setores reformistas.
O conservador Péter Erdő, da Hungria. (Foto: Wikimedia)
Apesar do sigilo absoluto imposto pelo Vaticano, especialistas apontam que os cardeais consideram não apenas questões espirituais, mas também interesses políticos e administrativos. Essa dinâmica gera debates e divergências internas, podendo influenciar o resultado da eleição papal.
A escolha do novo papa pode impactar a relação da Igreja com governos, a abordagem sobre temas sociais e até mesmo a administração financeira do Vaticano.
Divisões internas: progressistas x conservadores
O processo eleitoral ocorre em um cenário de divisões internas, especialmente no campo ideológico, onde há diferenças entre progressistas e conservadores.
Essas divergências influenciam debates e estratégias dentro do conclave, embora a Igreja busque preservar a unidade na escolha do novo papa.
“Vivemos um momento de profunda polarização e a Igreja não está imune a essa dinâmica. Debate haverá, mas provavelmente se optará por um caminho menos divisivo”, acredita Yves Chiron, autor do livro A História dos Conclaves.
O pontificado de Francisco, marcado por reformas como a maior inclusão de leigos e mulheres, o diálogo interreligioso e a abordagem pastoral em questões como a migração e o meio ambiente, é defendido por cardeais progressistas.
Por outro lado, setores conservadores, especialmente de países como EUA e África, criticam essas mudanças, temendo que comprometam a ortodoxia doutrinária da Igreja.
Um exemplo é o cardeal alemão Gerhard Ludwig Müller, que tem se posicionado contra reformas como a aceitação de casais do mesmo sexo e a maior participação de leigos e mulheres nos processos decisórios do Vaticano.
Ele alerta para o risco de eleger um "papa herege" e defende um retorno à ortodoxia tradicional.
Candidatos em destaque
Entre os principais candidatos (os "papáveis"), destacam-se:
Pietro Parolin, 70 anos: ex-secretário de Estado do Vaticano, visto como um diplomata experiente e potencial candidato de consenso, embora sua candidatura seja contestada por setores conservadores devido a críticas administrativas e ao acordo com a China sobre o nomeação de bispos.
Luis Tagle, 67 anos: cardeal filipino conhecido como o "Francisco asiático", popular entre progressistas, mas questionado por sua falta de experiência administrativa.
Matteo Zuppi, 69 anos: arcebispo de Bolonha e mediador no conflito Rússia-Ucrânia, visto como um candidato equilibrado entre as diferentes facções da Igreja.
Péter Erdő, 72 anos: arcebispo húngaro, apoiado por setores conservadores, especialmente da Igreja africana, que se opõem a reformas como a aceitação de casais do mesmo sexo .
Influências externas e lobby político
Além das divisões internas, o conclave também enfrenta pressões externas. Grupos conservadores católicos dos EUA, como a Papal Foundation e o Napa Institute, estão tentando influenciar a eleição por meio de jantares luxuosos e promessas de doações significativas, incluindo um fundo de US$ 1 bilhão, caso um papa alinhado com seus valores seja escolhido.
Há também rumores de apoio político de governos estrangeiros a determinados candidatos. Por exemplo, a proximidade do cardeal Jean-Marc Aveline com o governo francês tem gerado especulações sobre possíveis influências externas no processo eleitoral.
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