Médico testemunha cura pela fé no mundo acadêmico: “Eu era cético antes”

Na última segunda-feira (24), o clínico geral Dick Kruijthoff, recebeu seu doutorado após anos de pesquisa sobre cura pela fé. A inspiração para seu trabalho veio de uma experiência pessoal em 2007, quando uma compatriota, Janneke Vlot, teve uma recuperação milagrosa durante um culto de cura.

Médico, Kruijthoff testemunhou de perto a doença e recuperação de Janneke e decidiu mergulhar no assunto, levando mais de doze anos até concluir sua dissertação “Cura após a oração, um estudo de caso interdisciplinar”. Aos 65 anos, ele concluiu seu trabalho que incluiu outras experiências anônimas, que acompanhou ao longo de sua vida profissional.

O caso inicial foi o de Janneke Vlot, que teve sua história amplamente divulgada na mídia depois de permitir que seus dados médicos fossem compartilhados.

Um artigo no jornal alemão Trouw descreveu a natureza especial de sua recuperação repentina com base nessas informações. Isso gerou uma enxurrada de reações, que foram compiladas em um segundo artigo no mesmo jornal após uma chamada para compartilhar experiências positivas e negativas sobre a cura pela fé. Os comentários variaram de aprovação a altamente críticos.

"Achei difícil: 'O que devo fazer com isso?'. Pessoalmente, eu estava particularmente curioso sobre o que exatamente acontece em tais situações. Anteriormente, eu era cético em relação à cura pela oração, em vez de aberto a ela”, diz Kruijthoff.

“Mas certamente no caso de Janneke Vlot, eu não poderia simplesmente colocá-lo de lado. O professor da Universidade VU Kees van der Kooi, especializado em teologia carismática e com quem eu estava em contato, me disse: ‘Seria bom se um clínico geral investigasse isso’. Esse foi o ponto de partida”, conta.

O clínico geral, da cidade de Bleskensgraaf, na Holanda, enfrentou uma situação controversa ao se envolver em questões relacionadas à tensão entre ciência e religião. Porém, sua abordagem de não buscar provar ou refutar nada foi útil para lidar com essa situação complexa e cheia de armadilhas.

"No entanto, demorou cerca de cinco ou seis anos até que a proposta de pesquisa fosse aprovada em 2015", diz.

Vários países

O médico também interagiu com casos de outros países, como França, EUA e até o Brasil.

"Tenho estado em contato próximo com um professor americano que pesquisou curas em igrejas carismáticas e evangélicas nos Estados Unidos, Brasil e Moçambique. Isso forneceu uma base completa."

O primeiro pilar da pesquisa consistiu na análise dos registros médicos de pessoas que afirmavam terem sido curadas por meio da oração. Em resposta a uma convocação realizada por vários meios de comunicação, 83 indivíduos de todo o país se apresentaram para participar do estudo, e não apenas aqueles que residiam na região conhecida como "Cinturão da Bíblia".

Cinco médicos, incluindo quatro da Universidade VU de Amsterdam, examinaram os registros médicos das 83 pessoas que relataram a cura pela oração. Depois de selecionar 27 casos com dados suficientes para análise objetiva, os médicos constataram que as curas não se limitaram apenas ao nível psicossomático. As curas relatadas abrangiam uma ampla gama de doenças, desde problemas físicos como dores nas costas e enxaquecas até condições mais graves como doenças malignas, anorexia nervosa e inflamação hepática.

Entrevistas

Uma particularidade da pesquisa é que, além da análise dos registros médicos, também foram realizadas entrevistas em profundidade com as pessoas que afirmaram terem sido curadas por meio da oração.

"Uma das coisas que emergiu disso é que, em uma grande proporção de casos, a cura ocorreu de um momento para o outro. Uma minoria deles ocorreu durante os serviços de cura por oração; também aconteceu na oração pessoal, em um círculo de oração, durante uma unção dos enfermos, ou mesmo uma vez na celebração da Sagrada Comunhão. Para mim, esse resultado foi um abrir de olhos; o teólogo Van der Kooi chegou a chamá-lo de o resultado mais valioso da pesquisa”.

Outro aspecto impressionante é que a maioria das pessoas envolvidas no estudo não esperava ser curada pela oração, o que sugere que a cura pela oração pode ocorrer de forma inesperada e imprevisível.

"Uma senhora com todos os tipos de doenças, completamente incapacitada, orava desesperadamente à noite para que pudesse ser tirada sua vida. Ela então experimentou uma sensação de silêncio e tranquilidade, como se estivesse enrolada em um cobertor.”

"Na manhã seguinte, ela desceu as escadas e de repente percebeu que era quase sem esforço. Nas semanas que se seguiram, quase todas as suas doenças desapareceram. Das 33 pílulas – incluindo analgésicos semelhantes à morfina e prednisona – ela agora toma apenas uma, para sua glândula tireoide.”

Há ainda outro fato interessante revelada nas entrevistas: "Algumas das pessoas no estudo não estavam envolvidas na igreja e foram levadas a um culto de cura de oração por um conhecido ou um vizinho quando algo especial aconteceu de repente e inesperadamente. O grau de fé desempenha um papel bastante menor nisso", conclui.

Sensação de calor

Além disso, a experiência da cura pela oração muitas vezes envolveu não apenas a cessação dos sintomas físicos, mas também uma forte experiência emocional e física. "Muitos tiveram uma sensação de calor, de serem pegos de surpresa ou um toque no local da doença."

"Uma mulher com Parkinson descreveu isso como se uma rede tivesse sido removida de seu cérebro. Em alguns casos, havia uma percepção extrassensorial, como o vento em um espaço fechado ou uma visão”, explica.

Na grande maioria dos casos, a cura foi um evento transformador em vários níveis. "As pessoas se tornaram mais positivas na vida, tornaram-se muito mais ativas socialmente, comprometeram-se com os outros ou, por exemplo, entraram em missões. Uma cura pela oração não é apenas sobre melhorar. É uma experiência que diz respeito à mente, alma e corpo. Isso também foi um abrir de olhos para mim."

Kruijthoff, sendo médico, também é consciente de que há muitas pessoas que não se curam apesar da oração, e que as experiências de cura que ele explorou são relativamente raras.

Experiências positivas

Kruijthoff diz enfaticamente que sua pesquisa se concentrou em experiências positivas. "Há também experiências negativas com curas de oração, mas elas não foram incluídas."

Embora a cura pela oração seja vista com certa reserva em muitas congregações religiosas, a pesquisa de Dick Kruijthoff destaca que essa visão é injustificada.

"Muito mais uso poderia ser feito, por exemplo, da unção dos enfermos. É um belo instrumento da 'caixa de ferramentas' da igreja, como Van der Kooi o descreve."

A ênfase na "cura pela oração" presente nas histórias de pessoas que foram curadas é, ao mesmo tempo, um chamado à profissão médica para que escutem seus pacientes e busquem compreender a pergunta por trás da pergunta. A pesquisa de Kruijthoff destaca que há mais do que apenas dados armazenados digitalmente envolvidos na cura de uma pessoa.

Curas notáveis

Dos 27 casos examinados pela equipe médica, onze apresentaram uma cura clinicamente notável, mas a explicação médica para essas curas não foi considerada suficiente para compreender completamente as experiências de cura. O rótulo de "curas cientificamente inexplicáveis" não foi usado, já que a linha que separa o conhecimento médico-científico da cura pela oração é tênue, de acordo com Kruijthoff.

"As curas de oração que investiguei causaram grande admiração e me encorajaram", diz o médico.

"Outro dia falei com uma mulher que, como descrente, clamou a Deus e, para sua grande surpresa, de repente se curou. Depois disso, a fé tornou-se um recurso importante para ela, também para ajudar as pessoas com menos oportunidades”, relatou.