Polícia conclui investigações e aponta Flordelis como mandante do assassinato do marido

Ministério Público diz que deputada já havia tentado matar marido por envenenamento e com assassino de aluguel.

Fonte: Guiame, com informações do UOLAtualizado: segunda-feira, 24 de agosto de 2020 às 17:48
Flordelis (de casaco branco) durante o enterro de Anderson do Carmo de Souza. (Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo)
Flordelis (de casaco branco) durante o enterro de Anderson do Carmo de Souza. (Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo)

As investigações da Polícia Civil e o MP-RJ (Ministério Público do Rio) afirmaram na manhã desta segunda-feira (24) que a deputada federal Flordelis (PSD-RJ) planejava matar o marido havia mais de um ano.

O pastor Anderson do Carmo foi assassinado a tiros dentro de casa, na madrugada do domingo, 16 de junho de 2019, em Pendotiba, Niterói, Região Metropolitana do Rio.

Nesta segunda-feira (24), cinco filhos e uma neta da deputada foram presos por suspeita de participação no crime, e Flordelis foi denunciada como mandante do assassinato.

Para o MP e para a Polícia Civil, não há dúvidas de que Flordelis é a mandante do crime.

Seis tentativas de envenenamento

Segundo a Polícia e o MP, a deputada praticou pelo menos seis tentativas de envenenamento no ano que precedeu a morte do pastor, a primeira delas em maio de 2018. Doses de arsênico chegaram a ser colocadas na comida do pastor, que precisou buscar atendimento de emergência em unidades de saúde com sintomas como diarreia, sudorese e vômitos.

"Pelo menos outras duas tentativas foram arquitetadas para vitimar o pastor e só não ocorreram por circunstância alheias à vontade dessas pessoas. Uma foi quando ele foi efetuar a compra de um veículo na Barra da Tijuca acompanhado de outros filhos. Ela, juntamente com outras pessoas, arquitetou, planejou e deliberadamente falou para que o executor o matasse simulando latrocínio, se cercando para que demais pessoas não fossem atingidas", disse o delegado.

A segunda situação ocorreu quando um homem chegou a ser pago para matar o pastor. Segundo o delegado, o crime não foi cometido na ocasião porque ocorreu uma troca de veículos, o que criou uma confusão no executor, além de outra pessoa estar junto ao pastor no momento em que o assassinato aconteceria.

"Ela, ao assumir o cargo de deputada, nos parece que se sentiu mais empoderada para levar a cabo esse crime. Vimos tentativas de contratar pistoleiros, matador profissional, chegou a ser pago alguém, mas não foi levado a cabo e por fim o grupo familiar convenceu a executar o pastor quando ele chegava em casa", disse o promotor Sérgio Luiz Lopes Pereira, do Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

Deputada não foi presa

Flordelis responderá por homicídio qualificado, tentativa de homicídio, falsidade ideológica e organização criminosa. Ao todo, dez pessoas foram presas, mas a deputada, por prerrogativa de função - foro privilegiado -, só pode ser detida com autorização da Justiça. O chefe do Departamento Geral de Homicídios, delegado Antônio Ricardo, disse que medidas cautelares foram solicitadas.

"Foi deferido pelo juízo com base no pedido da DH e do MP que ela [Flordelis] tenha restrição de contatos, que não possa se locomover fora do território da cidade onde ela reside e em Brasília, onde ela exerce atividades laborais. Além disso foi deferido também o recolhimento do passaporte dela para que não se ausente das fronteiras nacionais e para que não mude de residência", disse Ricardo.

Desde o início das investigações, a parlamentar nega participação no assassinato de Anderson. Hoje, a defesa dela se disse "surpresa" com a operação.

"Organização criminosa intrafamiliar"

Segundo o MP, as investigações levaram à conclusão que Flordelis e familiares integravam um grupo criminoso.

Além do crime apurado, outros crimes foram descobertos. Ao final das investigações, chegou-se à conclusão que não se tratava de uma simples família, mas de uma organização criminosa intrafamiliar que tinha o objetivo bem específico de ceifar a vida dessa pessoa para alcançar maior propulsão financeira e política”, disse o promotor Sérgio Luiz Lopes Pereira, do Gaeco.

O motivo do crime, segundo a denúncia, seria o fato de a vítima manter rigoroso controle das finanças familiares e administrar os conflitos de forma rígida, não permitindo tratamento privilegiado das pessoas mais próximas a Flordelis em detrimento a outros membros da família.

"Ao longo das investigações a gente observa que a vítima geria a carreira política, religiosa e artística da deputada, todo lucro que essa família auferia, seja em shows, cultos, era ele que fazia a gestão e que solucionava conflitos intrafamiliares. Essa gestão financeira e essa forma rígida de solucionar os conflitos gerou revolta na primeira geração da família, essa geração que foi presa hoje, e acabou culminando na morte dele. Arquitetaram esse plano tendo em vista essa indignação com a gestão financeira", explicou o delegado Allan Duarte.

Os 11 denunciados

Além da deputada, dez pessoas foram denunciadas. Os sete presos hoje são:

Adriano dos Santos Rodrigues (filho)

André Luiz de Oliveira (filho)

Carlos Ubiraci Francisco da Silva (filho)

Marzy Teixeira da Silva (filho)

Simone dos Santos Rodrigues (filha)

Rayanne dos Santos Oliveira (neta)

Andrea Santos

Outros dois filhos Flávio dos Santos e Lucas Cézar dos Santos - e o ex-PM Marcos Siqueira Costa já estavam presos.  A mulher do ex-PM, Andrea, foi presa hoje.

Os mandados foram cumpridos em Niterói (RJ), na casa onde mora a parlamentar; em Brasília, onde ela possui apartamento funcional; e também em São Gonçalo. As decisões foram expedidas pela 3ª Vara Criminal de Niterói.

Ao todo, o crime contou com a participação de 20% da família.

"Nós temos 11 pessoas respondendo criminalmente. Levando em conta que a família são 55 [pessoas], temos aí 20% da família envolvida nesse crime", afirmou o delegado Antônio Ricardo.

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