Nesta quarta-feira (11), o fundador da Portas Abertas, Anne van der Bijl — conhecido como Irmão André — celebra seu aniversário de 94 anos.
Muito tempo de sua vida ficou para trás da Cortina de Ferro, no auge da Guerra Fria. Durante décadas ele trabalhou para que a Igreja Perseguida pudesse ter acesso às Escrituras.
Nascido num pequeno vilarejo na Holanda, no dia 11 de maio de 1928, um dos seis filhos de um ferreiro e de uma dona de casa se transformou num “grande missionário”. Ele conta que teve um encontro com Deus depois que começou a ler a Bíblia, em 1949, aos 21 anos.
“Não havia muita fé em minha oração. Apenas disse: Senhor, se me mostrares o caminho, eu te seguirei”, ele conta. “A Palavra de Deus transforma as pessoas e elas mudam as situações ao seu redor”, ele afirmou.
Como tudo começou…
O jovem Anne passou por diversas dificuldades familiares e tinha o desejo por desafios — isso o levou até a guerra da Holanda contra a Indonésia. “Ele era sedento por uma aventura que fizesse a vida valer a pena”, conforme a Portas Abertas.
Porém, as duras consequências das batalhas, como sofrimento e mortes, frustraram o soldado. Foi após levar um tiro na perna, que Anne foi sendo conduzido, gradativamente, aos caminhos do Senhor.
As orações dos amigos e longas conversas sobre Deus não pareciam fazer efeito imediato. Mas um dia, voltou a ler a Bíblia e não conseguiu mais parar.
Quando voltou para casa, a sede de compreender mais sobre a palavra continuou. O próximo passo dado foi frequentar uma igreja. Após a dispensa do exército em 1949, ele comprou uma bicicleta e por meio dela pôde participar também dos cultos em cidades vizinhas.
“Em cada um deles, anotava cuidadosamente o que dizia o pregador e passava a manhã seguinte procurando passagens na Bíblia para ver se tudo o que dissera estava realmente lá”, contou.
A repentina mudança nos hábitos do jovem preocupou os familiares, pois pensavam se tratar de alguma “neurose de guerra”. Mas foi em 1950 que ele parou de lutar e rendeu-se a Deus.
“Com uma nota no vento berrando para mim para não ser tolo, entreguei-me a Deus por completo — corpo, alma, espírito e aventura.
Irmão André em sua juventude. (Foto: Portas Abertas)
“Não havia nenhum plano”
Na Igreja, ele aceitou o convite para ser missionário e as oportunidades para pregar começaram a aparecer em sua própria cidade, porém, sentia-se atraído por algo maior.
Depois de muita pesquisa e um tempo de espera, ingressou na Cruzada de Evangelização Mundial. Lá estudou por dois anos e aprendeu na prática como Deus supre as necessidades daqueles que se propõem a trabalhar para o reino.
Na semana anterior da formatura, o cristão viu uma propaganda em uma revista, onde jovens foram convidados para um festival da juventude comunista em Varsóvia, capital da Polônia. Ele escreveu uma carta para os organizadores e compareceu ao evento como um missionário cristão.
“Não havia nenhum plano, nenhuma visão, certamente nenhum pensamento sobre liderar uma organização mundial. Deus revelou uma necessidade que eu podia satisfazer e foi isso que fiz”, ele disse.
A partir dessa viagem, ele encontrou muitos cristãos que viviam por trás da Cortina de Ferro e começou a trabalhar para que eles tivessem Bíblias e literatura cristã.
Assim que começou a viajar contrabandeando Bíblias por países comunistas como Tchecoslováquia, Iugoslávia, Romênia e Bulgária, Anne ganhou o fusca azul como companheiro para as viagens.
O carro rodava pelas estradas abarrotado de Bíblias, livros e suprimentos para as pessoas em campos de refugiados.
“Parei de usar meu nome completo e comecei a usar o nome pelo qual era conhecido atrás da Cortina, onde os sobrenomes praticamente deixavam de existir entre os cristãos: Irmão André”, contou o fundador da Portas Abertas.
Irmão André e seu famoso fusca. (Foto: Portas Abertas)
Sobre o Irmão André e a Portas Abertas
Os relatos sobre a vida e começo do ministério do Irmão André são encontrados no livro “O Contrabandista de Deus”, que se tornou um best-seller. Nele, estão registradas suas viagens para países da chamada “Cortina de Ferro”, fechados ao evangelho, com a finalidade de levar Bíblias para cristãos locais.
Além disso, contém detalhes de perigosas travessias de fronteiras, perseguição da polícia secreta russa, da KGB, e o início de sua jornada dedicada a viver radicalmente por Jesus.
“Diga-me onde você não pode ir como cristão e eu lhe direi como entrar. Talvez não consiga lhe dizer como sair”, ele disse em certa ocasião.
Seu trabalho deu início à Portas Abertas, levando a organização a lugares onde a maioria dos cristãos não estaria disposta a ir. “Nossa missão se chama Portas Abertas porque cremos que qualquer porta está aberta, a qualquer tempo e em qualquer lugar, para proclamar a Cristo [Apocalipse 3.8]”, ele explica.
Irmão André. (Foto: Portas Abertas)
“Todos somos chamados a realizar a obra de Deus”
“Devemos ser conhecidos não por quem e pelo que somos contra, mas a favor de quem e do que somos — de Jesus e de seu evangelho”, disse o missionário que já visitou 125 países e registrou mais de um milhão de milhas em suas viagens para pregar e conhecer cristãos em necessidades.
Ele disse que, durante essas viagens, nunca teve uma Bíblia confiscada e foi preso apenas três vezes. “Quando vemos qualquer grupo religioso ou político ou uma nação como inimigos, o amor de Deus não pode nos alcançar e nos chamar a fazer algo a respeito”, disse ao se referir que o amor deve prevalecer.
A mensagem do Irmão André ressalta que a união dos irmãos é essencial para que a obra seja feita. “Todos fazemos parte da mesma fraternidade de cristãos, que a Bíblia chama de corpo de Cristo. Precisamos uns dos outros. Todos somos chamados a realizar a obra de Deus, juntos”, declarou.
Irmão André conversa com um refugiado afegão em uma das viagens que fez ao Paquistão. (Foto: Portas Abertas)
A partir de 1970, o trabalho passou a ser apoiado por nações como África do Sul, Holanda, Austrália, Suíça, Estados Unidos, Reino Unido e Brasil.
Gradativamente, foram surgindo oportunidades de expandir os projetos e chegaram até o Oriente Médio, África e América do Sul. Em todas as viagens, as Bíblias e livros cristãos eram itens essenciais na bagagem e o Irmão André não deixava de se reunir com líderes nacionais para conversar e apresentar a mensagem da cruz.
A conferência “Love Africa”, em 1978, foi um momento importante na história da Portas Abertas e ajudou no início do ministério no continente africano. (Foto: Portas Abertas)
“Há muito que podemos fazer, começando de joelhos. É verdade que não posso mais viajar e ver meus irmãos e amigos. Mas posso orar. Recentemente estive desafiando os cristãos para serem mais ativos”, ele disse já em sua velhice.
“Na maior parte do tempo, sentimos medo porque ficamos na defensiva. Não fomos feitos para nos defender, ou defender a igreja, ou o cristianismo em geral. Fomos feitos para antecipar as ações”, completou.
O Irmão André foi casado com Corrie Van Dame, cristã que conheceu enquanto trabalhava na fábrica de chocolate Ringers, e tem cinco filhos e 11 netos. Corrie já foi para o Senhor. Atualmente, o missionário vive na Holanda sob os cuidados da família.
O Irmão André viu com os próprios olhos as consequências das guerras no Oriente Médio e fortaleceu irmãos na região (Foto: Portas Abertas)
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