Em meio a crise e sequestros, missionários realizam batismos no Haiti: “A obra avança”

Em entrevista exclusiva ao Guiame, o missionário brasileiro Marcos Germano falou sobre os atuais desafios do campo haitiano.

Fonte: Guiame, Cássia de OliveiraAtualizado: terça-feira, 23 de agosto de 2022 às 17:26
O missionário Marcos Germano batizou 14 novos convertidos, no Haiti. (Foto: Cortesia de Marcos Germano).
O missionário Marcos Germano batizou 14 novos convertidos, no Haiti. (Foto: Cortesia de Marcos Germano).

Em meio a crise e o aumento da violência que tem assolado o Haiti, a obra missionária no país caribenho continua perseverando.

No início de agosto, a missão da Assembleia de Deus Belém USA realizou duas celebrações de batismos nas cidades de Jérémie e Camperrin, onde 14 pessoas desceram às águas, dando testemunho público de sua fé em Cristo.

A salvação dos novos convertidos é motivo de muita festa para os missionários locais, que pregam com coragem o Evangelho em uma nação em que 80% da população católica pratica vodu.

“Já passamos por muitas lutas. Apesar das dificuldades, estamos avançando em nome de Jesus”, disse o missionário brasileiro Marcos Germano, coordenador de missões da AD USA no Haiti, em entrevista exclusiva ao Guiame.

O trabalho acontece desde 2014 através de missionários locais, que receberam formação da igreja americana, liderada pelo pastor Joel Freire Costa. 


O missionário Marcos Germano batizou 14 novos convertidos, no Haiti. (Foto: Cortesia de Marcos Germano).

Plantação de igrejas

Desde lá, três igrejas já foram plantadas no país, nas cidades de Les Cayes, Jérémie e Camperrin. 

A grande igreja em Jéremie está em reconstrução desde que o furacão Matthew levou a baixo todo o prédio, em  2016.

A missão também possui uma escola de ensino fundamental e médio, que atende 162 alunos. Além da educação básica, o colégio ainda oferece cursos profissionalizantes, como agronomia e construção civil.

Mesmo com a alta dos preços dos materiais de construção devido a crise econômica no Haiti, a missão comprou um terreno em Les Cayes para construir mais uma igreja e uma escola.

Atualmente, a nova congregação já está cultuando em uma estrutura improvisada com placas de zinco, enquanto a documentação para iniciar a obra está em andamento. 

Mesmo na simplicidade de um templo de chão batido, os cristãos adoram a Deus com alegria e gratidão.

“Hoje, para realizar um trabalho missionário no Haiti requer muitos recursos financeiros, é um país muito caro para sobreviver”, comentou o pastor Marcos.


Igreja improvisada com placas de zinco, em Les Cayes. (Foto: Cortesia de Marcos Germano).

Haiti: um país mergulhado em caos

O missionário relata que o país enfrenta uma grave crise social e humanitária, e ainda se recupera das catástrofes naturais que devastaram a nação nos últimos anos, como o terremoto de 2010.

“Desde a saída da MINUSTAH, Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, a situação tem piorado. A violência, a falta de emprego, a miséria tem aumentado”, disse Marcos.

Segundo o líder, o assassinato do presidente Jovenel Moise, em junho do ano passado, causou incerteza política na nação e ainda não há previsão de novas eleições.

Com a instabilidade social, as gangues exercem poder em diversas regiões, controlando rodovias, cobrando pedágios ilegais e realizando sequestros.

“As gangues tomaram conta do país, especialmente na capital, onde há 76 gangues, que tem aterrorizado a população haitiana com violência desenfreada. Dizem que tem morrido mais pessoas no Haiti do que na Guerra da Ucrânia”, afirmou o pastor.

Cristãos e líderes sequestrados durante os cultos


A escola da missão  atende mais de 160 alunos. (Foto: Cortesia de Marcos Germano).

Os sequestros por grupos armados se tornou um problema grave no Haiti e missionários estrangeiros e líderes locais se tornaram alvos dos raptores.

“Segundo dados da ONU, 873 pessoas foram sequestradas neste ano. O sequestro se tornou um comércio muito lucrativo para esses grupos, como um meio para continuar sua atuação no país”, explicou Marcos Germano.

E acrescentou: “Muitos missionários já foram sequestrados, com a gangue pedindo 1 milhão de dólares pelo resgate. Há sempre um risco não só para os missionários estrangeiros, mas também para os nativos que trabalham para uma missão estrangeira”.

Há ainda relatos de pastores e membros que foram sequestrados dentro de igrejas, durante os cultos.


A igreja em Jéremie está em reconstrução desde que o furacão Matthew levou a baixo todo o prédio. (Foto: Cortesia de Marcos Germano).

Vodu: prática enraizada na cultura haitiana

Para o missionário, o principal desafio do campo missionário haitiano hoje é espiritual. Embora a população seja de maioria católica, grande parte das pessoas pratica também o vodu.

“Para muitos haitianos o vodu é uma cultura, que está bem enraizada em seus corações, deixadas pelos seus ancestrais. Já me deparei com muitos cristãos que, infelizmente, frequentavam cerimônias de vodu. Nos cultos, eles caiam possessos com espíritos imundos”, observou.

Em um país que tem sido devastado por conflitos políticos e desastres climáticos durante décadas, a Igreja haitiana não parou e continua perseverando de fé em fé.

“Com tantos desafios que enfrentamos nesse país, a obra de Deus avança”, testemunhou o missionário Marcos.

 

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