A perseguição de cristãos em sete nações asiáticas, incluindo a China, deve aumentar em 2023 devido à pressão política e visões religiosas radicais, prevê o relatório atual do grupo de direitos cristãos Release International (RI).
O grupo, baseado no Reino Unido, liberou o relatório intitulado “Tendências de perseguição 2023”, divulgado em 28 de dezembro de 2022.
Nele aparecem em destaque a China, Coreia do Norte, Índia, Paquistão, Afeganistão, Malásia e Irã como nações onde os cristãos enfrentam perseguição, informou a Radio Free Asia (RFA), em 4 de janeiro.
O relatório destacou o amplo controle imposto pelo presidente chinês Xi Jinping sobre os cristãos do país, rotulando-os como cidadãos “antipatrióticos” por meio de mensagens oficiais.
“O governo de Xi Jinping quer controlar tudo, e atualmente o cristianismo não está totalmente sob seu controle [como ele o vê]”, disse o relatório, citando uma fonte não identificada.
“O cristianismo está sendo retratado como inaceitável para um país ateu e comunista, em vez de uma crença aceitável, mas minoritária”, dizia o relatório.
O documento destacou os inúmeros relatos de líderes e seguidores cristãos presos ou convocados para interrogatório relacionados às suas atividades na China.
Perseguição e denúncias
O crescente número de cristãos que enfrentam acusações relacionadas a cultos e atividades financeiras e religiosas ilegais também foi apontado como um indicador da perseguição cristã na nação governada pelos comunistas.
Mensagens claras e fortes aos jovens, professores e pais de que “a religião prejudicará sua educação” foram enviadas por Pequim, que exige denúncias às autoridades de qualquer pessoa envolvida em atividades religiosas, diz o relatório.
O relatório também apontou casos de empresas que retiraram ofertas de emprego em que os candidatos expressaram “crenças cristãs”.
Coreia do Norte piorando
A situação dos cristãos na Coreia do Norte, um aliado próximo da China, também foi destacada no relatório como piorando.
“A Coreia do Norte é talvez o perseguidor mais severo dos cristãos no mundo hoje”, afirmou Andrew Boyd, oficial de relações públicas da Release International, informou a RFA.
O regime de Kim Jong-un vê o cristianismo como uma ferramenta usada pelas potências ocidentais para colonizar outros países e “continua a educar o público sobre os 'perigos' do clero, missionários e Bíblias”, aponta o relatório.
O documento também destacou a repressão que Pequim iniciou aos desertores cristãos norte-coreanos na China, citando a Covid-19.
As autoridades chinesas indicaram sua intenção de deportar os desertores para a Coreia do Norte, onde provavelmente seriam interrogados sobre sua frequência à igreja, interação missionária e recebimento de Bíblias.
Extremismo hindu
O relatório também cita a pressão dos grupos extremistas hindus sobre os cristãos na Índia, que é “cada vez mais encorajada pelo governo hindu de direita do país”. O texto indica ataques contínuos aos cristãos no país.
Segundo o relatório, os ataques a missionários cristãos de grupos nacionalistas hindus aumentaram desde que o Partido Bhartiya Janata (BJP) chegou ao poder em 2014.
Tanto o Fórum Nacional de Solidariedade quanto a Irmandade Evangélica da Índia observaram cerca de 500 ataques relatados a cristãos em 2021, com cerca de 200 registrados nos primeiros cinco meses de 2022, diz o relatório.
Leis anticonversão
O país viu a implementação de várias leis anticonversão que o partido governante do BJP cita como uma medida para conter a conversão forçada.
Os estados de Chhattisgarh, Gujarat, Haryana, Himachal Pradesh, Jharkhand, Karnataka, Madhya Pradesh, Odisha, Uttarakhand e Uttar Pradesh promulgaram suas leis anticonversão, que foram contestadas em tribunais em muitos lugares.
Cristãos e outros grupos minoritários reclamam da lei, que segundo eles muitas vezes é mal utilizada contra grupos cristãos com má vontade politicamente motivada.
Em março de 2021, ativistas hindus invadiram um culto de oração protestante dentro de Satprakashan Sanchar Kendra, um centro de mídia católico de propriedade e administrado pela Sociedade da Palavra Divina em Madhya Pradesh, Índia.
Os agressores hindus alegaram que os cristãos estavam envolvidos na conversão religiosa em massa, violando a lei implementada no estado em janeiro de 2021, que criminaliza a conversão religiosa por meio de sedução, força, coerção e casamento.
Com base na denúncia, 11 cristãos foram presos e acusados de acordo com a rigorosa lei anticonversão promulgada no estado, informa a UCA News.
Prisões, ataques e ameaças
Em um incidente semelhante, a freira católica Bhagya, que trabalhava como diretora de uma escola em Madhya Pradesh, foi presa quando uma mulher hindu de 45 anos, Ruby Singh, ex-professora da escola, reclamou à polícia em 22 de fevereiro de 2021, que a religiosa usou a força para convertê-la.
No Paquistão, os cristãos enfrentam “ataques e ameaças frequentes, incluindo acusações de blasfêmia, assassinatos seletivos, violência de turbas, conversões forçadas e destruição de locais de culto e sepulturas”, diz o relatório.
“Muitos cristãos afegãos fugiram do país ou vivem temporariamente em países vizinhos, como Paquistão ou Irã, enquanto os que permanecem se esconderam”, diz o relatório.
Nações de maioria muçulmana, como Malásia e Irã, também foram citadas como locais onde os cristãos enfrentam restrições e dificuldades sob leis rigorosas que proíbem a prática de sua fé.
“A perseguição [cristã] tem aumentado nos últimos anos. 2023 parece destinado a continuar essa tendência”, afirmou Paul Robinson, CEO da Release International.
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