Depois da morte de Mahsa Amini, quase 50 cidades no Irã organizaram protestos contra o governo ditador. A jovem de 22 anos foi presa porque “estava usando seu hijab meio frouxo”. Ela foi espancada na delegacia e acabou morrendo por conta dos graves ferimentos.
A indignação dos iranianos ficou conhecida globalmente e desencadeou protestos em massa, dentro e fora do Irã. Os cristãos estão participando dos protestos e se juntando aos apelos por justiça, direitos das mulheres e o fim da opressão no Irã.
O advogado e diretor do Artigo 18, Mansour Borji, explicou ao Christian Today que “a morte de Amini provocou tanta ira no povo que pode ser um ponto de virada no país”.
O Artigo 18 é uma organização, com sede em Londres, que defende a liberdade religiosa no Irã e advoga em nome dos cristãos perseguidos.
“Acreditamos que a defesa dos direitos humanos é responsabilidade de todos nós, e especialmente dos cristãos, que desejam desempenhar um papel positivo e transformador na sociedade”, diz a organização em seu site.
“Impuseram seus próprios códigos morais”
Borji disse que não se surpreendeu com a onda de protestos: “Era de se esperar depois de anos de opressão que levaram o Irã a esse ponto de ebulição. A cada década, o Irã teve uma revolta nacional, mas o que estamos vendo é a frequência crescente dessas revoltas”, explicou.
“Até mesmo estudantes do ensino médio estão se levantando e tirando suas vestes obrigatórias e queimando-as. É uma desobediência civil absoluta, em todos os níveis da sociedade, que está unindo iranianos de todos os grupos étnicos, culturais e religiosos, em defesa das mulheres, da vida e da liberdade”, continuou.
O advogado explica que o governo ditatorial tomou o poder, há mais de quatro décadas, e que a primeira coisa que fizeram foi impor sua própria interpretação religiosa a todos.
“Começou com o fechamento das igrejas e outros grupos religiosos, e a exterminação de muitos líderes. Em um nível social, eles impuseram seus próprios códigos morais”, disse.
“Hijabs obrigatórios para as mulheres foi uma das primeiras coisas que fizeram para subjugar as pessoas. Agora, essas mesmas pessoas estão se manifestando para recuperar o que perderam desde o início, que é a liberdade de escolha — escolher o que vestir, em que acreditar e como viver”, resumiu.
Mahsa Amini, 22 anos. (Foto: Wikimedia Commons)
Sobre a imposição do uso do véu islâmico
No Irã todas as mulheres têm que usar o hijab e essa “é uma das formas de discriminação contra elas”, conforme aponta Borji.
E como fica a situação das cristãs no país? “Muitos iranianos não estão cientes de que ‘não têm direito à liberdade religiosa’ até que escolham exercer essa liberdade e acreditem de forma diferente”, respondeu.
Ao se converter ao cristianismo, por exemplo, as pessoas se dão conta da ditadura imposta e percebem que o direito à liberdade foi arrancado delas. “O hijab é daquela época em que a elite governante iraniana ditava suas crenças religiosas a todos os outros”, disse o advogado.
“As pessoas querem fazer suas próprias escolhas, elas não querem que as autoridades iranianas escolham por elas”, simplificou.
Cristãos estão arriscando suas vidas nos protestos
No Irã, não é preciso muito para que um cristão seja perseguido pelas autoridades, basta ser um seguidor de Jesus e se posicionar dentro de suas crenças.
E quando um cristão decide participar de um protesto contra o governo ditador, é um risco muito grande, conforme explica Borji.
“Mas foi isso o que a igreja primitiva fez, foi isso que o próprio Cristo exemplificou, e quando você vê os laços da opressão, seja espiritual, física, política ou social, a Igreja tem que estar na vanguarda disso”, disparou.
“Temos que falar a verdade e responsabilizar os sistemas cruéis pelas injustiças que estão cometendo contra as pessoas”, disse ao comentar que muitos estão em oração para que esse movimento seja um divisor de águas.
“Estamos quase lá e acho que já foi derramado sangue suficiente para que isso tenha um fim. Este governo perdeu legitimidade dentro do país e agiu como um valentão para muitos outros países da região, como Iraque, Síria, Líbano, Iêmen, ameaçando-os com instabilidade”, esclareceu.
“Além disso, o governo também ameaça globalmente com sua ambição nuclear. Acho que é chegada a hora do mundo ver um pouco de paz nesta região. É hora de irmos além de nossas políticas e apoiarmos movimentos democráticos. Não é hora de agradar ditadores”, concluiu o advogado.
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