Pastores alertam sobre uso do ChatGPT em sermões: ‘Um robô não pode pregar’

Alguns líderes cristãos testaram um chatbot de Inteligência Artificial e obtiveram sermões prontos: “Não podem replicar a paixão da pregação real”.

Fonte: Guiame, com informações de AP NewsAtualizado: sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023 às 18:00
O desenvolvimento da IA está tomando o lugar dos seres humanos. (Foto representativa: Piqsels)
O desenvolvimento da IA está tomando o lugar dos seres humanos. (Foto representativa: Piqsels)

Na medida em que crescem as habilidades de linguagem no campo da Inteligência Artificial (IA), aumentam também as preocupações dos cientistas e o desconforto entre pregadores da palavra de Deus. 

Isso porque a rápida expansão dos chatbots de IA permite que eles escrevam até mesmo um sermão religioso. 

Chatbot é um programa de computador que tenta simular um ser humano na conversação com as pessoas. O objetivo é responder as perguntas de uma forma tão natural que as pessoas tenham a impressão de estar conversando com alguém, sem imaginar que na verdade existe um robô do outro lado

“Eles podem até escrever um sermão razoavelmente competente, mas não podem replicar a paixão da pregação real”, diz o consenso entre os pastores.

‘Falta uma alma’

De acordo com o pastor americano em Kentucky, nos EUA, Hershael York: “Falta uma alma, não sei outra forma de dizer isso”, observou ao comentar que os sermões devem ser o núcleo de um culto de adoração.

“Geralmente, o sermão é a melhor chance que os líderes religiosos têm de atrair a atenção de sua congregação para transmitir orientação teológica e moral”, continuou York, que também é reitor da Escola de Teologia e professor de pregação cristã no Seminário Batista Teológico do Sul. 

“Pastores preguiçosos podem ser tentados a usar a IA para esse fim, mas não os grandes pastores, aqueles que amam a pregação e que amam seu povo”, destacou.

‘Sermões plagiados’

Um rabino em Nova York, Joshua Franklin, disse recentemente à sua congregação, no Centro Judaico de Hamptons, que faria um “sermão plagiado” para tratar de questões como confiança, vulnerabilidade e perdão.

Ao terminar, pediu aos fiéis que adivinhassem quem o escreveu. Eles ficaram perplexos quando Joshua revelou que o autor era o ChatGPT — um protótipo de um chatbot com inteligência artificial desenvolvido pela OpenAI e especializado em diálogo. 

O sermão feito pelo chatbot de mil palavras era relacionado à lição da Torá daquela semana. As pessoas reagiram aplaudindo. “Vocês estão batendo palmas, mas eu estou com medo”, disse o rabino. 

Apesar de ser inteligente, o ChatGPT não é empático, conforme lembra o rabino: “O que nos une é a compaixão e o amor, e um chatbot é incapaz de construir comunidades e relacionamentos”.

‘O Evangelho é muito mais que palavras’

Todd Brewer, um estudioso do Novo Testamento e editor-chefe do site cristão Mockingbird, compartilhou que também teve uma experiência com o ChatGPT, pedindo um sermão de Natal a ele. 

Brewer disse que foi bem específico, solicitando um texto “baseado na narrativa do nascimento de Jesus, no livro de Lucas, com citações de Karl Barth, Martinho Lutero, Irineu de Lyon e Barack Obama”.

“A IA parece até entender o que torna o nascimento de Jesus genuinamente uma boa notícia, no entanto, o sermão carece de calor humano. A pregação da IA não tem capacidade para simpatizar de forma convincente com a situação humana”, ele observou. 

Mike Glenn, pastor sênior por 32 anos na Igreja Batista do Sul, concordou: “A IA nunca será capaz de pregar um sermão decente, sabe por quê? Porque o Evangelho é muito mais do que palavras”.

‘O verdadeiro sermão vem da alma e do coração’

Jason Thacker, presidente de pesquisa em ética tecnológica da Igreja Batista do Sul, disse que tem monitorado os desenvolvimentos da Inteligência Artificial por vários anos. 

Ele compartilha a opinião de que “pastores sábios e virtuosos” não permitirão que a nova tecnologia os impeça de uma imersão pessoal na redação de sermões.

“Mas também posso ver isso sendo usado de maneiras inúteis ou antiéticas. Alguns jovens pastores podem se tornar excessivamente dependentes dessas máquinas e não ver as imperfeições dessas ferramentas”, ele observou.

“Muitos pastores estão sobrecarregados, exaustos e cheios de ansiedade”, disse ainda. E York acrescentou: “Já podemos ver muitos grandes sermões com elementos de angústia”. 

“A inteligência artificial pode imitar isso em algum nível. Mas acho que nunca poderá oferecer qualquer tipo de sensação de sofrimento, dor, tristeza, da mesma forma que um ser humano pode”, continuou. 

“O verdadeiro sermão vem do fundo do coração e da alma e é isso que os grandes pregadores têm, e não acho que você possa conseguir isso através de uma máquina”, concluiu.

Este conteúdo foi útil para você?

Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia

Siga-nos

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições