A guerra de gangues, no Haiti, vem se desdobrando com muita violência, deixando mortos, feridos, deslocados e muitas crianças traumatizadas. Conforme a ONU, muitas delas são estupradas e até executadas.
A organização disse que, na capital haitiana Porto Príncipe e nas imediações, crianças de até 1 ano tiveram seus corpos queimados após a execução.
O Escritório Integrado das Nações Unidas no Haiti afirmou através de um relatório, nesta semana, que uma guerra entre duas coalizões de gangues matou pelo menos 94 moradores, feriu mais de 120 e levou ao desaparecimento de 12.
A guerra, que aconteceu entre os dias 24 de abril e 16 de maio, fez com que cerca de 16 mil pessoas fugissem de suas casas, buscando refúgio em locais improvisados ou em casas de parentes.
“Não pouparam ninguém”
“Armados com fuzis, mas também com facões e bombas de gás, as gangues não pouparam ninguém”, afirma o relatório.
“Mulheres e crianças de até um ano de idade foram executadas e seus corpos queimados. Jovens adolescentes, acusados de espionagem pelo lado oposto, foram baleados em locais públicos”, continua.
“Houve ainda estupro contra mulheres e meninas, algumas delas com menos de 10 anos de idade”, disse ainda. O relatório também indica que muitas pessoas inocentes morreram simplesmente por viverem em bairros controlados por gangues rivais.
Os grupos criminosos apontados como responsáveis pelos atos são conhecidos como “Chen Mechan” e “400 Mawozo”, com o apoio de seus respectivos aliados, o “G9 em Família e Aliados”.
De acordo com o Escritório Integrado da ONU para o Haiti, coalizões entre gangues não são novidade em Porto Príncipe e se tornaram um assunto de destaque durante o governo do presidente Jovenel Moise, que foi brutalmente assassinado aos 53 anos, com 12 tiros.
Surto de violência
O aumento das brigas de gangues fez com que o país caribenho perdesse a paz e se tornou perigoso para as comunidades locais, cada vez mais vulneráveis.
“Este recente surto de violência armada em Cité Soleil, Croix-des-Bouquets e Tabarre, mostra que eles persistem e até se intensificaram com a provável implicação de atores políticos e econômicos já envolvidos na época”, diz também o relatório da ONU.
Na quarta-feira passada, comunidades no centro de Porto Príncipe testemunharam tiroteios pesados quando membros suspeitos da coalizão de gangues do G9 incendiaram uma igreja e tentaram matar seus oponentes na tentativa de ganhar mais território de gangues rivais.
Luta contra impunidade e violência sexual
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (ACNUDH, na sigla em inglês) afirmou, no mês passado, que 934 pessoas foram mortas, 684 feridas e 680 sequestradas em toda a capital, de janeiro até o final de junho.
Nos cinco dias de 8 a 12 de julho, pelo menos 234 pessoas foram mortas ou feridas em violência relacionada a gangues, na área de Cité Soleil, de acordo com o porta-voz do ACNUDH, Jeremy Laurence.
Laurence solicitou às autoridades do Haiti que garantam os direitos fundamentais das pessoas e que esses direitos sejam protegidos e “colocados na frente e no centro de suas respostas à crise”.
“A luta contra a impunidade e a violência sexual, juntamente com o fortalecimento do monitoramento e denúncia das violações dos direitos humanos, deve continuar sendo uma prioridade”, disse Laurence.
“A maioria das vítimas não estava diretamente envolvida em gangues e foi alvo direto de elementos de gangues. Também recebemos novas denúncias de violência sexual”, acrescentou.
Riscos de viajar ou permanecer no Haiti
As gangues ficaram mais poderosas desde o assassinato do presidente Moise, em 7 de julho de 2021, enquanto o Haiti enfrenta dificuldades sociais e políticas. O país ainda não se recuperou de um terremoto de magnitude 7,2 que matou mais de 2.200 pessoas, em agosto de 2021.
No ano passado, o Departamento de Estado dos EUA alertou todos os americanos para que saíssem do Haiti o mais breve possível. À luz da atual situação, os americanos foram aconselhados a considerar os riscos de viajar ou permanecer no Haiti.
Em dezembro do ano passado, o Christian Aid Ministries, com sede em Ohio, anunciou que todos os 17 missionários que foram sequestrados pela gangue 400 Mawozo, no Haiti, foram libertados.
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