MP investiga vereador Nikolas Ferreira por denunciar trans em banheiro feminino

“Estou apenas reivindicando um direito — homem usa banheiro de homem, e mulher usa banheiro de mulher”, ele defendeu.

Fonte: Guiame, Cris BeloniAtualizado: quinta-feira, 7 de julho de 2022 às 13:28
Vereador Nikolas Ferreira (PL) e vereadora Bella Gonçalves (PSOL). (Foto: Captura de tela/Vídeo Instagram Nikolas Ferreira)
Vereador Nikolas Ferreira (PL) e vereadora Bella Gonçalves (PSOL). (Foto: Captura de tela/Vídeo Instagram Nikolas Ferreira)

O vereador de Belo Horizonte, Nikolas Ferreira (PL) está sendo investigado pela veiculação de um vídeo nas redes sociais, onde critica a presença de um adolescente transexual dentro de um banheiro feminino.

As imagens foram feitas pela irmã do vereador, num colégio particular da capital, onde ela estuda. A gravação já tem mais de 100 mil visualizações, conforme o G1.

No conteúdo do vídeo, o adolescente de 16 anos entra no banheiro feminino e a irmã do vereador questiona a presença dele ali “por se tratar de um menino”. Ao compartilhar o vídeo, o vereador faz um alerta aos pais.

Mas, por defender “os direitos mais básicos” conforme ele especifica, Nikolas é totalmente hostilizado pela vereadora do PSOL, feminista e militante LGBT, Bella Gonçalves. 

“Estou apenas reivindicando um direito”

“Não estou promovendo nenhum tipo de ataque às pessoas trans, mas apenas reivindicando um direito — homem usa banheiro de homem, e mulher usa banheiro de mulher”, ele disse durante uma reunião ordinária na Câmara Municipal de Belo Horizonte. 

Enquanto Nikolas usava o microfone do plenário, Bella Gonçalves tentou interrompê-lo insistentemente, demonstrando total impaciência. Ele precisou pedir licença para exercer o seu direito de expressão. 

“A minha irmã, que estuda no colégio Santa Maria, teve a experiência de entrar num banheiro de menina e encontrar lá um menino de 16 anos. E ele nem se considera um trans, ele falou que era um travesti”, explicou o vereador.

Segundo ele, o que está sendo imposto a uma menina de 16 anos, é que ela negue a privacidade dela, a segurança e, acima de tudo, negue a verdade. Ele disse ao se referir sobre a questão de realmente ser homem ou mulher.


“Afinal de contas, basta eu me sentir que eu me torno?”

Nikolas defende que ser homem ou mulher não é questão de sentimento. “Quem disse que ‘se sentir’ é ciência? De onde surgiu isso, já se perguntaram?”, questionou ao citar Kinsey e John Moley.

“É necessário colocar os ‘pingos nos is’,  pois quando indivíduos ‘se sentem’ homens ou mulheres, estamos expondo as crianças. No caso, um menino se sentiu menina e entrou num espaço onde só tinha meninas”, apresentou o cenário. 

“O banheiro diz respeito a uma questão anatômica e não de gênero. Não é uma autopercepção daquilo o que você se sente. No banheiro masculino existe um mictório, ou seja, é para quem tem um pênis”, disse ainda.

“Então, se um professor adulto se sentir mulher, pode entrar num banheiro feminino? Isso pode dar abertura para homens mal intencionados, porque existem estupradores e pedófilos que podem se utilizar dessa brecha”, alertou o vereador.

“Isso não é aceitação, é uma imposição”

“Se hoje eu me sinto homem ou me sinto mulher, vocês são obrigados a aceitar a minha realidade? E se eu me sinto a ‘presidente aqui da Câmara’, o que acontece? Vocês vão me respeitar como tal?”, ilustrou.

“Isso não é uma questão de aceitação, mas de imposição. Se não aceitamos o que vocês estão falando, somos transfóbicos ou homofóbicos? Mentira!”, exclamou ao apontar para os ativistas LGBT´s como o grupo mais intolerante que tem no Brasil.

O que vocês estão fazendo é um crime. Isso é errado, isso é calúnia”, disse ao lembrar que está sendo acusado de transfóbico e LGBTfóbico. 

“Se eu perguntar a alguém se concorda com a Bíblia e a pessoa disser que não, então ela é uma bíbliafóbica? Que loucura é essa? Não estou querendo impor nada. Estamos aqui falando de um direito básico”, destacou.

“Uma menina de 16 anos deve poder entrar num banheiro e não ter que encontrar um marmanjo com pênis lá dentro. Isso por acaso é defender uma loucura ou algo anormal?”, disparou.

“Nós não somos criminosos”

Ao mencionar a vereadora Bella Gonçalves do PSOL, Nikolas diz: “Já que você é uma femininista que chama os homens de potenciais estupradores, como aceita um homem dentro do banheiro feminino colocando aquelas meninas em risco?”. 

“Eu que tô ficando louco? Eu que tô querendo impor algo? Vocês não vão tomar conta da sexualidade das crianças e as induzirem a ser aquilo  que vocês acham que elas são”, defendeu.

“Nós não somos criminosos. O que quer dizer ser um transfóbico? É discordar deles? Ser intolerante é não concordar com tudo o que eles toleram? Ser respeitoso é concordar com tudo?”, fez as perguntas ao se referir à comunidade LGBT.

“Amar não é concordar com tudo”

Ao dizer que no amor também há discordância, o vereador ainda destacou: “Amar não quer dizer concordar. Se o meu filho se tornar um homossexual vou amá-lo 100%, mas vou discordar 100%”, disse.

“Então, não tentem trazer para o âmbito do apelativo emocional, pois não é isso que estou discutindo aqui. Isso não diz respeito a direitos, mas a privilégios”, frisou ao dizer também que as pessoas estão sendo obrigadas a “engolir o que eles estão falando”, caso contrário são consideradas transfóbicas.

Vereadora do PSOL se defende

Enquanto isso, a vereadora, representando a comunidade LGBT, alega que o vídeo instiga “violência” contra o adolescente e contra a escola. E considerou um “crime” nas redes sociais o fato do vereador ter postado o vídeo expondo a situação. 

A representação foi protocolada pelas vereadoras Bella Gonçalves (PSOL), Iza Lourenço (PSOL) e pela Aliança Nacional LGBTI em Minas Gerais, junto à Coordenadoria de Combate ao Racismo e Todas as Outras Formas de Discriminação do MPMG.

O documento alega que a publicação de Nikolas expõe o adolescente e “incita os posicionamentos contrários à garantia de direitos da população transgênera”. Diz ainda que fere direitos previstos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e também pela Constituição.

O caso foi instaurado como uma notícia de fato e, agora, deve ser encaminhado à promotoria, que pode decidir por abrir o inquérito ou arquivar a denúncia.

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